"Tempo versus Vida"

[Texto Fictício]

Não sou mais o mesmo. Olho-me em meu antigo espelho e vejo rugas, falta de cabelos, marcas e sinais de uma vida inteira. Anos que hoje sinto que passaram tão rápido, ao mesmo tempo em que parecem tão distantes do presente.

Aprendi o significado de dinheiro muito cedo. Por causa das péssimas condições de minha família, comecei a trabalhar com treze anos em uma fábrica de tecidos. Aos quinze, recebi minha primeira promoção e senti pela primeira vez o gosto de um aumento salarial.

Depois disso, meu desejo de subir na carreira só fazia crescer. Passava os finais de semana e as horas livres estudando projetos de como receber mais e mais promoções.

Quando completei vinte e cinco anos, já estava próximo de me tornar vice-presidente da fábrica. Já havia conquistado algumas garotas, mas todas me dispensavam no primeiro ou segundo mês, alegando falta de atenção e carinho. Eu não as entendia, com o meu salário, um dos maiores de toda a empresa, eu poderia comprar jóias, flores e presentes que as fariam as mulheres mais felizes do mundo. Porém, hoje as entendo melhor que qualquer um.

Aos vinte e sete anos, casei-me com a mais bela mulher que havia visto em toda a minha vida, mas, por causa da minha falta de tempo, não sabia nem a cor dos olhos dela. Tive um filho, contrariando seu desejo de ter uma família grande. Nós éramos estáveis financeiramente, eu já havia alcançado o cargo de vice-presidente, porém, deduzi que mais filhos aumentariam demais nossos custos.

Continuava gastando meu tempo livre para vencer o presidente da fábrica e conseguir o seu cargo. Via a minha esposa apenas na hora de dormir, e meu filho já havia desistido de esperar acordado a minha chegada do trabalho, assim, eu só o via nas noites de domingo em que cansava de estudar.

Hoje, sou presidente da maior linha de tecidos do país, com algumas representantes no exterior. Porém, isto não significa mais nada para mim. Estou com meus dias contados. Uma grave doença no cérebro limitou meu tempo em até quatro meses.

Estou impossibilitado de fazer muitas coisas que não fiz durante a minha vida. Percebi que não sei qual é a flor favorita de minha mulher e não compareci ao casamento de meu filho. Dei a ele uma vida digna, sem os problemas que passei na minha infância pela falta de dinheiro, mas nunca tive tempo de perguntar a ele se era feliz.

Se eu pudesse dar um conselho a ele ou a qualquer outro jovem, diria para não deixarem o tempo se tornar seu pior inimigo, não deixá-lo roubar o que os jovens têm de melhor, a vida. Pois ela é única e devemos aproveitá-la da melhor maneira possível, sem cometer os erros que cometi.