O Bolo Conta a Festa
Lembro-me bem do dia em que nasci. Mãozinhas ágeis e delicadas preparavam os ingredientes para me confeitar!
No início dói um pouco... Mistura daqui, bate dali, despeja na forma, leva ao forno e... Ui!
Mas o melhor vem depois: a cobertura. Puxa vida! Fiquei lindão todo enfeitado com motivos infantis.
Era aniversário do filho da mulher que estava me confeitando. Garotinho levado! Ele ia fazer sete anos e levava uma chinelada no bumbum toda vez que tentava enfiar o dedinho curioso em mim.
- Não senhor! Só depois de cantar os parabéns. – dizia a mãe dele, de bobes nos cabelos e o avental todo sujo de farinha!
Enfim, a festa começou. Imaginem: crianças correndo e estourando balões; brigadeiros voando; gente sentando em salgadinhos esquecidos nas cadeiras! Uma loucura!
Coitados dos meus amigos, os salgadinhos, que foram os primeiros a serem devorados (sofregamente) por crianças e adultos barulhentos e vorazes!
E eu esperando pela minha hora... O momento “principal” da noite... Enquanto isso me distraio com a decoração da festa: a mesa toda repleta de pratinhos, copinhos, bandejas, garrafas e até uma toalha decorada com tema de futebol... Desenhos, ou melhor, caricaturas dos jogadores do Corinthians espalhados pelas paredes e estampados nos balões...
De repente, alguém apagou as luzes... As sete velinhas, sete jogadorezinhos, que estavam espetadas em mim foram acesas e... Aquela música fúnebre começou a ser entoada:
- Parabéns pra você... (para o menino, claro).
- Nesta data querida... (ah, sim! Querida pra ele q não vai ser devorado...).
- Muitas felicidades... (pra ele, muitas... e pra mim?).
- Muitos anos de vida! (vida???? Buáááá! Estou prestes a ser destruído e ainda tenho q ouvir isso??? Ai ai ai..).
Então, a mesma pessoa que havia apagado a luz, tornou a acendê-la... E quando vi, havia uma espátula se aproximando de mim...
- Espereeeem!!!! – alguém gritou! E eu pensei: “Será minha salvação???” Puro engano... Apenas lembraram o menino de fazer um pedido especial antes do... Corte...
E eu fui todo picotado, jogado em pratinhos, espetado com garfinhos, mastigado, triturado, devorado, digerido e... Er... Deixa pra lá...
E este foi o meu fim... Meu trágico fim...
Elaine Thrash – 18/03/2002