Insígnia dos Sentimentos

Ralf andava preocupado com sua insígnia, que denominava 'insígnia dos sentimentos’.

- Me lembro como se fosse ontem... - dizia ele, enquanto procurava alguma direção para seguir seu karma.Sempre achara que seria o herói, que resgataria os sentimentos do mundo, mas não sabia que ele mesmo havia matado seus próprios sentimentos e que o mundo continuava girando normalmente, nada havia acontecido com os demais.

Nasceu pensando em ser criança, mas morria em sua adolescência, pensando ser adulto.Pode-se defini-lo simplesmente assim, havia matado a mistura de idéias revolucionárias que tinha anteriormente na cabeça, agora era um mero ser humano depressivo, o problema é que Ralf achava que o problema não era com ele, todos tinham culpa, menos o mesmo...Era o herói, não o vilão.

Inventara uma insígnia, mero medalhão que sua mãe lhe dera antes de morrer, mãe que, se visse o filho atualmente, morreria mais uma vez, apenas de desgosto.Ralf virara uma pessoa desprezível, direta, sincera e ignorante.Também pudera, não tinha mais tal mistura metafórica de coisas das quais ele denominava como sendo os sentimentos como dissera outrora, mas como ele dizia, o problema não era com ele...

Porém agora, enquanto ele procurava sua insígnia via o que todos tentaram lhe mostrar algum dia, ELE sim é o problema, mais ninguém além do próprio.Após relembrar sobre a morte de sua mãe, relembrou também mais alguns sonhos que tivera, onde se mataria de alguma maneira, sempre odiara aqueles sonhos, dizia que era culpa da sociedade sem sentimentos em que vivia, mas dizia isso sempre de uma forma mórbida que só uma pessoa sem sentimentos faria, então ninguém lhe dava a mínima, até porque perdera os únicos amigos que resistiram anos com ele daquele jeito, agora estava a sós com seu “karma”, mas a insígnia havia se perdido, o karma e toda sua teoria de vida havia acabado, não lhe sobrara mais nada.

Não chorou, embora tenha estranhado isso – Não sou eu que deveria ter sentimentos? Deveria chorar – pensou consigo mesmo enquanto voltava à sua casa:

– Talvez eu que seja o problema, talvez eu não viva com sentimentos, os sonhos, ah, os sonhos, seria esse sim o meu karma?

Pensou tudo isso antes de acabar sua vida imitando seu pai, que também ficara confuso após a morte de sua mãe e se enforcara pendurado na sacada do apartamento onde moravam antigamente.Agora ali estava Ralf, morto enforcado, na frente do monumento criado em homenagem à sua mãe, estátua com um bloco de mármore na parte inferior onde ainda podia-se ver o escrito “Eva, a heroína dos sentimentos”.

Que descanse em paz, Ralf, quis viver à sombra de sua mãe, continuando a pseudolegião de heróis, mas acabou morrendo sem o que fez de sua mãe um ser idolatrado.

Khris
Enviado por Khris em 25/05/2009
Código do texto: T1614389
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