AMANTES
“Tristeza não tem fim, felicidade sim.”
E eram estes os versos que ecoavam em minha mente depois daquele momento tão perturbador.
Eu sabia que jamais poderia tê-lo por inteiro, ainda sim, me deixei levar.
Aquilo que, no início parecia ter como objetivo a mera satisfação de desejos carnais, havia tomado uma proporção gigantesca e catastrófica da qual eu sequer poderia imaginar.
Haviam surgido sentimentos, sem que eu me desse conta disso. E essa onda, que a princípio, era só maré, crescia a cada instante, disposta a me engolir de maneira avassaladora sem que eu pudesse fazer qualquer coisa para salvar-me daquilo que era inevitável, mas que, por tolice, ou qualquer outra coisa do gênero, eu havia me cegado a ponto de querer adiar...
Eu sentia saudades e não esperava vê-lo, já que não havia entrado em contato durante o dia, e a hora de ir embora adiantava-se.
Foi quando ele chegou. Confesso que uma tormenta de emoções percorreu sobre a espinha, e fez com que meu coração pulsasse mais forte.
Sabia que não tínhamos muito tempo, mas eu não queria nada além de sentir o toque, olhar nos olhos, deitar sobre o seu peito e beijar-lhe os lábios. Sabia, também, que isto, muito pouco provavelmente aconteceria – e, de fato, não aconteceu.
Entretanto, quando ele se aproximou, e tocou suavemente (o que lhe era muito peculiar) minha mão, não pude deixar de esboçar um sorriso. Como eu gostava de senti-lo..
Foi quando, de súbito, senti que seu toque desaparecera. O carinho não durou mais que uma fração de segundos.
Aí, então, olhei para trás, e descobri o motivo de sua mão não mais estar pousada sobre a minha: era ela.
Com aquele olhar gélido de sempre e o ar de soberania que tornava sua aparência extremamente arrogante; a qual me causava náuseas.
Eu não sabia se, na realidade, ela era assim, mas foi essa a impressão que tive desde quando a vi pela primeira vez, esta em fotografia.
Fitei-a por alguns instantes, evitando que nossos olhares se cruzasse, mas para minha infelicidade e terror, aconteceu.
Senti-me paralisada como que diante de uma arma letal: nada, jamais, havia me causado tanto pavor.
Sentei-me procurando esconder de tudo e de todos; e meu olhar cruzou-se novamente, mas não eram os olhos sombrios que me atacavam, eram os olhos doces de alguém que, por alguns momentos, acreditei ser meu.
Esse mesmo doce olhar, fitava-me agora com aparente cansaço e angústia. E eu o olhava, numa súplica incessante, implorando pra que eu pudesse sair dali.
Senti que uma lágrima estava prestes a cair, mas, num esforço sobrenatural, consegui contê-la.
Toda essa cena não durou quinze minutos, mas pareceram uma eternidade.
Eu queria gritar, queria desaparecer, queria qualquer coisa que não estar ali; mas, a única coisa que conseguia, era repetir pra mim mesma: “Burra, burra, burra! Como foi que se permitiu tal coisa?!”.
Contive minhas vontades, gelei os sentimentos e calei os pensamentos: precisava estar sã, aparentar normalidade para as demais pessoas que se encontravam no recinto.
Andava de um lado para o outro como a procurar explicações para tamanha tolice.
Então, percebi que ele se colocara à minha frente, dizendo que ia embora. Ainda de cabeça baixa – novamente tentando escapar da profundeza de olhares – consenti, despedindo-me da forma mais fria e impessoal que conseguia; meus lábios entreabriram-se dizendo forte e decididamente: tchau.
Foi tudo o que consegui dizer. Foi tudo o que pude dizer.
Não o vi saindo levando consigo a dona de olhos e gestos aterradores.
Tentei parecer normal nos minutos que seguiram o que – embora sem muito êxito – obtive.
Quando, finalmente, me vi só, não consegui mais conter as lágrimas teimosas que, outrora, não pude deixar cair.
Fui embora, a passos lentos, acendi um cigarro e chorei.
Chorei por ele, por mim, pela situação na qual me envolvi, e pelo estado no qual me encontrava agora.
Nem nos meus mais remotos sonhos, imaginei ter que passar por isso.
Sentia-me esmagada, rejeitada, humilhada...
Na realidade, ainda me sinto.
Não sei o que fazer, ou como poderei olhar em seus olhos novamente, não se como reagir. Não sei nem se posso ou devo.
Sinto-me presa num estado mórbido do qual não posso sair. As lágrimas cessaram. Já não sinto dor ou angústia. Já não sei se sinto.
E, tudo isso, é o preço que se paga por querer ser amada e desejar aprender a amar.