NOTA SOBRE O LIBERALISMO E O ESTADO

É muito claro que a complexidade da economia torna o governo incapaz de ter seu controle e ser seu principal agente sem atropelar peculiaridades e caminhos mais naturais da vida das pessoas. Quanto a, entretanto, creditar super-poderes ao liberalismo econômico, como se o estado fosse sempre um mal, não. O Estado, a meu ver, deve ser o fomentador da economia e agir segundo os interesses de sua população; em que se deve levar em conta, primeiro, sua prévia liberdade individual – com o acesso cada vez mais livre e limpo às informações e formas de manifestação –, para que as pessoas tomem decisões cada vez menos condicionadas; e em segundo lugar, a liberdade que elas devem atingir com a popularização de seu Estado, sob suas rédeas, para garantir a melhor convivência dos interesses de qualquer natureza (econômicos, para o nosso caso).

Para cada povo, o estado deve ser da maneira em que esse povo deseje. As peculiaridades de cada lugar acabam por se refletir no Estado, quando ele é realmente popular. No sentido de que está ali, sob forma de instituição, o que é necessário para a convivência dos interesses daquelas pessoas, (interesses) formadores constantes de sua cultura. Que isso não soe, entretanto, como nacionalismo, como chauvinismo. Mas como reconhecimento das peculiaridades locais, que existem obviamente, assim como existem diferenças entre as pessoas.

Queria mesmo que se atentasse para entender o que me parece muito óbvio: que tanto uma cultura quanto uma pessoa é um todo repleto de interesses que por vezes se contrariam e que, se não fossem mediados por algo, acabariam por findar aquele todo. Contudo, há uma diferenças entre muitas nessa analogia, porque, numa cultura, em situação ideal, deveria ser permitido emigração de uma pessoa cujos interesses contrariam os da sociedade considerada. Por isto se percebe o valor do direito individual numa cultura tal, o que seu Estado, se realmente popular, irá garantir, uma vez que foi obra dos próprios cidadãos. Aquilo que mantém a unidade, diria “torna possível a convivência”, também emana do Estado. Disso, fácil entendê-lo como fomentador, principalmente da economia.

A posição de um Estado popular firme é importante não no sentido de planificar a economia mais ou menos como uma regra a ser aplicada para o alcance da perfeição. Mas de manter, sob a custódia dos cidadãos, o que rege sua convivência. Na medida em que o poder econômico acaba por delegar quase que automaticamente o poder político, revela-se o absurdo de querer resolver os problemas econômicos simplesmente suprimindo o Estado. O liberalismo descontrolado não tende a um equilíbrio. Se, como idealmente seria, as condições de disputa fossem iguais entre os cidadãos, as diferenças de “sucesso” se acumulariam em forma de um absurdo poder por parte de alguma parcela da sociedade. Esta parcela volta o Estado novamente a um interesse particular.