E Omar, onde está
? 
 
Embora tenha estacionado aqui dentro de mim, em algum momento que não se completou, no abraço de despedida que não foi dado, no adeus que não foi dito, na lágrima petrificada no coração paralisado pelo medo, o tempo lá fora não parou.

Não importa o que façamos, o tempo sempre segue adiante. Não há como parar o tempo, exigir que ele espere a cura de nossas feridas, o nosso tempo de semear e colher. Ele tem seu seu próprio tempo, seu ritimo, seu caminho e nós não podemos mudar isso.

O tempo passou e, apesar de setembro continuar sangrando em mim, dezembro passou, janeiro chegou e já está quase no fim.  Apesar da saudade dos que se foram para sempre e daquele que vive partindo meu coraçao com longas viagens – meu eterno namorado, o mês de São Sebastião trouxe-me uma certa paz.  

Tentando amenizar a saudade decidi passar uns dias em Caraúbas visitando parte da família que mora lá e revendo amigos – este é o período ideal, pois está acontecendo a festa do padroeiro. Fui decidida a ficar os dez dias.

Revi muitos familiares e amigos.

Visitei a casa de papai e fui acolhida como antes, carinhosamente. Senti saudades, chorei, mas percebi que a dor começa a adormecer, embora, em certos momentos ainda acorde gritando, procurando espaço para expandir-se. Mandei celebrar missa pelos quatro meses e rezei pedindo paz para todos nós que ficamos e um bom lugar para os que partiram. Visitei seu túmulo e senti-me estranhamente só.

Acompanhei a II Cavalgada de São Sebastião. Fui a um show dos “The Fevers” e me devirti como há muito não fazia.  Fui ao almoço com os caraubenses ausentes, há vinte e dois anos vamos a este encontro e lá comemoramos o aniversário de Omar. Ontem comemorei sozinha, enquanto ele continua nos EUA. Teria sido melhor com ele, mas a vida não espera, então resolvi que, mesmo sem ele, não quebraria a tradição.

A festa ainda não acabou, amanhã acontecerá a procissão dos motoristas e dia vinte o encerramento com missa solene, procissão e leilão, mas bateu a saudade de casa e voltei antes do final.

Nestes dias que fiquei só em Caraúbas senti os efeitos colaterais de sair sozinha. A cada abraço, cada cumprimento a fatal pergunta: e Omar, onde está? Creio que respondi  esta interrogação umas mil vezes, sem falar nos olhares curiosos e cheios de interrogações daqueles que preferem criar sua própria versão dos fatos ...

          
 
 
Este texto faz parte do Exercício Criativo - Efeitos Colaterais. Saiba mais, conheça os outros textos:
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Fotos: Mário Neto (sobrinho-neto) e Ângelo, os cavaleiros  mais jovens da cavalgada;
            Marcos, meu irmão.
Ângela M Rodrigues O P Gurgel
Enviado por Ângela M Rodrigues O P Gurgel em 18/01/2010
Reeditado em 18/01/2010
Código do texto: T2037403
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