O IDOSO VERSUS NOSSO OLHAR DIFERENTE...PARA O TEMPO

"O meu problema é que ele cuida DEMAIS de mim"

A frase acima eu a ouvi hoje duma amiga e foi sua entonação, paradoxalmente indignada, que me trouxe ao presente texto.

Eu achei mais conveniente qualificá-lo como redação, posto que é uma visão minha, muito particular, sobre o que hoje se determina terceira ou quarta idade.

Na verdade trata-se dum ensaio (parece que leitores não gostam muito de ensaios!) que parte da minha constante observação da dinâmica de vida dos idosos de hoje que, em pleno século vinte e um, nos descortina uma realidade de vida cujas necessidades são bem diferentes das dos idosos de antigamente,ao menos daqueles que conseguiram chegar na casa dos sessenta anos até o quase final do século passado.

Ocorre que todos sabemos que o Brasil já não é tão jovem como era considerado na época dos nossos bancos escolares e tende a envelhecer muito mais a acompanhar as estatísticas dos países de primeiro mundo.

É um país amadurecido e cujo futuro já chegou.

E a despeito de todas as dificuldades logísticas do mundo, estamos todos globalmente mais velhos, e a ciência se confronta com certo impasse, ou seja, com as consequências sociais da sua maior conquista: o de buscar pela qualidade de vida DIGNA àqueles que proporcionou adentrar pelas terceira e quarta idades.

Para um país em desenvolvimento como o nosso isso não é uma tarefa fácil e já citei por aqui que não podemos nos espelhar em políticas que não representam a nossa realidade geo-social.

Para exemplificar as dificuldades do nosso tempo bastaria que delineássemos um mapa de como vivem hoje os nossos idosos e para isto uns poucos minutos numa fila da previdência social, ou numa unidade básica de saúde, seriam mais que suficientes para qualquer hipótese de diagnóstico sociológico das massas.

E juntamente com esse avanço do tempo, mudaram as perspectivas de como inserir o idoso na sociedade, com o devido respeito a que tem todo o direito, mas que ainda está longe de se considerar sedimentado no nosso aprendizado e FUNCIONAMENTO social.

Porém aos poucos engatinhamos, e já nos é possivel notar pontualmente que conseguimos importantes avanços fente o caminhar dos anos.

Assim surge o estatuto do idoso, que tenta duma forma protocolar elencar e garantir direitos de cidadania aos idosos dentro do nosso dificil e heterogêneo contexto social.

É mister para se desfrutar com qualidade das terceira ou quarta idade, que cheguemos com alguns requisitos básicos para a qualidade da vida: Autonomia e independência. Ambas parecem ser a mesma coisa mas não são. A primeira versa sobre sua situação de " poder" financeiro que esbarra nas condições de aposentadoria e previdência social que depende de políticas específicas, e a segunda em última análise depende do conceito de SAÚDE, O BEM ESTAR FÍSICO, PSQUÍCO SOCIAL E ESPIRITUAL, e aqui vários seguimentos das ciências médicas, sociais e humanas se acoplam "multidisciplinarmente" para garantir o bom funcionamento do idoso, desde que haja também programas sociais para tal.

É preciso que a sociedade repense o conceito do envelhecimento e isso também é uma questão cultural, a demandar por tempo. Não basta se ter um estatuto num papel.

Envelhecer é um processo natural e mais que certo para todos que não morrem antes da terceira idade. Não tem saída.Ou se morre ou se envelhece.

Envelhecer não é doença. É transformação natural.

Envelhecer não demanda por dó, demanda por respeito.

E se proporcionar condições dignas de vida ao idoso não é esmola...é obrigação de todos nós enquanto país.

O respeito, portanto, deve estar nas ruas e dentro de casa e aqui eu também quero falar do espaço do idoso dentro da família.

Ocorre que muitas são as vezes em que a família se perde nos cuidados com o seu idoso. Na tentativa de protegê-lo, volta-se aos cuidados de "criança" como se já não fosse, o idoso, dono de suas faculdades mentais, pois estou aqui falando do envelhecimento natural e saudável.

O idoso tem o direito à sua casa, ao seu espaço social, à sua roda de amigos, à sua sexualidade, ao seu lazer, ao seu supermercado, ao seu cardápio, a cuidar das sua contas, a dispor da sua aposentadoria com bem entender... e principalmente ao seu sossego. Quando vai ao médico tem direito de expressar suas queixas e a ouvir o seu diagnóstico. Não é preciso que façamos tal ato por ele.

Não é ao idoso que deveria caber o sustento da família e nem as preocupações com as logísticas que não lhe dizem mais respeito, muito menos a responsabilidade dos netos!

Portanto tem o direito à sua própria vida , ao seu próprio ritmo e tempo, quando a sua vida e a sua saúde assim o permitirem.

Foi exatamente por isso que entendi perfeitamente o grau de reprovação e angústia da minha amiga de setenta e nove anos que, ao ficar recentemente viúva, agora volta incomodamente a ser FILHA, extremamente cuidada para não dizer "vigiada" a cada passo pelos filhos e netos, como se não fosse dona da sua própria vontade, a bem dizer do "seu próprio nariz".

Repensemos. Não enclausuremos nossos idosos! Não os sufoquemos com excessos de cuidados! Sejamos mais flexíveis e razoáveis! Aprendamos junto a eles, as tantas maravilhas que podem nos ensinar!

Uma dinâmica de vida imposta quase sempre gera descontentamentos tristezas...conflitos e depressões.

Que ampliemos nossos olhares aos nossos idosos, a enxergar a grande beleza de cada momento da vida , mesmo que hoje nos pareça difícil compreender que, embora o tempo nos leve o que julgamos "quase tudo", ainda nos é possível a alegria de se ser feliz...a qualquer tempo...e do modo que melhor nos convier.

Ademais é bom que lembremos... o Espírito é uma força energética imune às horas, portanto totalmente alheio ao tempo.