O Mesmo e o Outro

“A verdadeira vida está ausente”. É assim que E. Lévinas começa a sua obra Totalidade e Infinito a qual trata do tema da metafísica não em sentido clássico, mas como aquela referente ao tema da alteridade. O autor faz uso dessa metáfora para incidir nesse tema sem que caia na cilada da ontologia clássica. Para tanto, força os limites da linguagem o que, em certo sentido, o faz arranhar as portas da mística ainda que não faça apofaticamente. Parte da idéia de que todos aqueles que crêem vivem o desejo do invisível, como por exemplo, desejar o futuro.

Estamos no mundo e este nos configura um lugar, uma posição sistêmica dentro dele. Portanto, somos municiados de ferramentas fenomenológicas para construir a cartografia da situação na qual cada qual se encontra partindo desde o aí do ser-aí que se abri para a transcendência.

Esse mundo é o ambiente ontológico no qual o ser-aí constrói o sentido e o significado ajudado pela linguagem, portanto, uma totalidade de sentido e de significado. O outro, nessas condições é apenas um Mesmo envolvido por essa totalidade de significação lingüístico-ontológica de enclausuramento do ser-aí. Sair dessa totalidade é tarefa da metafísica levinasiana. O fora-de-si é o objeto da transcendência, portanto, somente o outro que pode assumir oa mais diversos rostos é que assumi fisionomias de pobre, de estrangeiro, de viúva, de marginalizado etc. Então, a verdadeira vida é a transição de sentido e de significado do “meu-mundo” com o mundo ‘fora-de-mim”, pois que, essa transição salvaguarda aquele que está fora e que não tem sentido e nem significado para mim, ou seja, dentro da quadratura ontológica da linguagem e que, por causa disso, interpela-me constantemente, isto é, força-me a sair.

Segundo Lévinas essa maneira é a maneira de ser da civilização ocidental, ou seja, uma civilização que encerra todo o mistério do outro dentro do si mesmo, uma vez que essa mesma civilização é presidida pela verbalidade do verbo ser que tem a pretensão de construir, pela linguagem, uma teoria completa sobre o mundo (Aristóteles/Tomás). A filosofia ocidental é devedora dessa categorização linguístico-cognoscente do homem ocidental a qual é uma teoria da totalidade que amarrou de forma definitiva os entes no interior de uma totalidade fechada de sentido e de significado obliterando a alteridade.

Dranem
Enviado por Dranem em 27/02/2010
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