Um Papel Diferente

Em duas décadas a tecnologia e o barateamento de seu custo transformaram a realidade de acessibilidade à internet. Segundo a 20ª pesquisa anual da Fundação Getúlio Vargas sobre o Mercado Brasileiro de Informática, em maio de 2009 totalizava-se 60 milhões de micro computadores em uso no Brasil, ou seja, um para cada grupo de três pessoas. E, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 34,8% da população nacional teve acesso a internet no ano de 2008, o que representa um aumento de 75,3% desta acessibilidade em apenas três anos.

A popularização da internet estremece a confiança dos veículos impressos. Será este o fim?

Em termos de comunicação a característica de maior contraste com o impresso é a agilidade proporcionada pela internet. A notícia passa a ser imediata. Devido a este imediatismo, os materiais publicados são menos elaborados, mais superficiais. E, assim como sua produção, sua leitura também é rápida, e a absorção pequena.

E é aí que o impresso respira. Nada como substituir quantidade por qualidade. Em meio a avalanches diárias de informações um material mais aprofundado e analítico tem destaque e conquista o público. E só o impresso tem o tempo necessário para isso.

O pé que está na cova é o dos jornais impressos que trabalham com coberturas de menor dimensão. Porém as portas da felicidade estão se abrindo para o jornalismo que investiga, que busca também fontes alternativas, que interpreta, que agrega mais informações na notícia ou ainda, que se especializa.

O jornalismo dá boas vindas à Lei de Lavoisier, e assim como para a química ("na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma") pode-se afirmar que não estamos em um momento de adeus ao jornalismo impresso, e sim participando do processo de metamorfose que ele sofre, entrando em uma nova fase.

Ao jornalista que vive este momento não cabe a preocupação com o possível fim dos veículos impressos, mas sim com a adaptação de seus produtos a um público que tem acesso a internet e às informações que ela disponibiliza, que é exigente, que procura e precisa de fontes com credibilidade.

Outra vantagem que a internet ostenta é a estética. Os web designers trabalham a influência das cores, a disposição do conteúdo e outros atributos de edição visual para obter ambientes agradáveis, que prendam o interesse do internauta. Neste âmbito as revistas despontam frente aos jornais, já que na sua grande maioria, têm suas páginas coloridas. Mas o efeito provocado no leitor depende da capacidade do diagramador. É preciso investir em profissionais com alto nível de sensibilidade, que consigam trabalhar com preto no branco trazendo resultados que deixem a página atraente e a leitura confortável.

Além disso, apesar de toda a inovação tecnológica que nos é apresentada incessantemente, com equipamentos que possibilitam o acesso à internet cada vez menores e mais portáteis, nada como manusear o papel. Leve, dobrável, rasgável! Isso, rasgável!!

A informática nos disponibiliza o famoso Ctrl C/Ctrl V e até o print screen, mas nada substitui o nostálgico recorte de jornal. A primeira vez que o nome do filho sai no jornal; a lista dos aprovados no vestibular; a foto de seu casamento na coluna social; a entrevista que concedeu como especialista naquela área... É como a pasta de arquivos jpg que não arranca as mesmas emoções que o álbum de fotos antigo. Enquanto a sociedade não for dominada por robôs, haverá sempre espaço para aquilo que produz efeitos emotivos.

Mãos a obra jornalistas! Se o perfil do público foi renovado, é preciso renovar o que lhe é oferecido, é preciso oferecer um papel diferente.