Memórias de uma Copa

Começou mais uma Copa do Mundo... Vejo alguns jogos e penso: "não fazem mais copas como antigamente", uma frase um tanto batida e que se justifica, conforme Bial, porque tendemos exaltar os fatos do passado em detrimento dos fatos do presente e isso, talvez, por que envelhecemos e perdemos, com o tempo, o elã inicial do primeiro contato.

Minha melhor lembrança de Copa do Mundo é a de 1982, minha primeira copa (ou ao menos a primeira que guardo vívida na memória, uma vez que em 1974 e 1978 eu não entendia nada do assunto... Rsrs).

Lembro do primeiro jogo: a vitória da Bélgica por 1x0 sobre a Argentina, com gol de Van Den Berg. Mas, o que me interessava eram os jogos do Brasil. Vi uma partida inesquecível: Brasil 2 x 1 União Soviética. Levamos um susto com o Gol de Bal e pensei: "estamos fritos", pois Dasaev, o goleiro deles, nem brisa deixava passar; pegava tudo. Parecia uma defesa sólida, mas como diria Marx: "Tudo que é sólido desmancha no ar". Assim, dois torpedos, um de Éder e outro de Sócrates, derrubaram a muralha russa. Depois, goleamos a Escócia (4x1) e a Nova Zelândia (4x0) com atuações fantásticas da esquadra canarinho. Passamos à segunda fase da copa.

Recordo-me que a cada gol do Brasil, a meninada corria para festejar na rua. A rua, sem calçamento, virava o nosso Maracanã, ou melhor - já que a copa era na Espanha - o nosso Santiago Bernabeu, onde as traves eram de tijolos (um de cada lado) e a bola era de borracha e já surrada pelo tempo. A efémeride futebolística tinha o condão de aproximar as pessoas, fazendo-as confraternizar. Bons tempos...

Veio a segunda fase, enfrentaríamos Argentina, então campeã, e a Itália. A Argentina tinha a base que fora campeã em 1978 (Fillol, Bertoni, Tarantini, Gallego, Passarella, etc) e um jovem, chamado Maradona. Mas, não foram páreos para Zico, Sócrates, Falcão e cia. Passeamos em campo: Brasil 3 x 1 Argentina (gols de Zico, Serginho e Júnior).

O próximo adversário seria a Itália. Os italianos, na primeira fase tinham feito uma campanha marcada por empates (com Polônia, Peru e Camarões). O Brasil levava vantagem no saldo de gol, pois tinha feito 3x1 nos portenhos, enquanto os italianos só tinham vencido por 2x1. Assim, bastaria empatar e passar à semi-final.

O Brasil entrou em campo tentando cadenciar o jogo, tocando a bola e "gastando o tempo". Entretanto, esta postura foi responsável pelo primeiro gol italiano: Cerezo tenta um passe lateral e Paolo Rossi intercepta, avança e marca na saída de Valdir Perez. O jogo começa a ficar mais disputado. O Brasil vai para cima, a Itália responde e assim vai até que Sócrates, de dentro da área, chuta cruzado e empata. Mas, a defesa novamente falha e Paolo Rossi marca para a squadra azzurra. Terminou o 1º tempo: vantagem deles. Recomeça a partida, o Brasil avança, mas esbarra em Scirea e Gentile, defensores italianos. O jogo prossegue aguerrido até que Falcão manda um "tiro" indefensável para Zoff, empatando e reacendendo as esperanças do Brasil. A alegria toma conta da rua. Faltavam poucos minutos para o jogo acabar. Nos estertores da partida, a Itália consegue um escanteio. A defesa sai para fazer a linha de impedimento; Júnior fica plantado e Paolo Rossi marca 3x2 e elimina o Brasil. A rua ficou vazia; os meninos não jogaram naquele dia...

É fato, ficou para a história do futebol: não fomos campeões em 1982. Mas, guardo na memória os lances geniais de uma seleção injustiçada que fez do futebol uma arte e dos dias de jogos do Brasil, uma oportunidade para confraternizar.

(Danclads Lins de Andrade).

Danclads
Enviado por Danclads em 16/06/2010
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