A PORTEIRA E AS DUAS LUZES

No alto do morro, uma estrada margeando as pedras levou um viandante a uma porteira. Estava cansado e quase esmorecido.
Do cume de moeirão esquerdo , no entardecer, já quase ao escurecer do dia, ele viu duas luzes num horizonte baixo, parecendo traduzir um convite a visitá-las.
O peregrino se põe a caminho, devem estar perto  - pensou.
Contudo ele anda...anda... e anda. As dificuldades vão surgindo junto à escuridão do anoitecer. Ele caminha e nunca chega próximo das luzes como que a lhe insultar. A escuridão da noite açambarca o caminho, que por mistérios das sombras desaparece. As árvores passam a fazer parte, porém invisíveis, da composição que o cerca. A mata parece se intensificar. Ruídos dos animais notívagos aumentam à medida que as horas passam.
  Mas na experiência do mundo o peregrino não tem medo. Ele sabe que tudo tem um sentido de determinação, por conseguinte, permanece calmo em seus procedimentos sob o sereno da noite. Cansado, põem-se a repousar nas entranhas de umas salientes raízes de uma suposta árvore gigante. As luzes desapareceram, os morcegos e curiangos voam e dão seus gritos. Mas o peregrino dorme. Sua alma, sem terror, entretanto contendo um profundo amor em Deus,  repousa até o ama-nhecer do outro dia, quando ele descobre que estava ainda próximo da porteira do morro.
Ah! Até que enfim ele percebeu que tinha dormido próximo dela e sonhara com as duas luzes!