Discurso de Posse

Discurso de Posse

Prezados senhores. E senhoras. Estou hoje tomando posse do nosso país. É, pois, com imensa satisfação, que vos falo ao vivo e em cores. Hoje, como todos sabem, é meu primeiro dia e achei justo utilizar dos meios disponíveis para discursar. Pois então. Aham...(alguém me arruma um copo d‘água?). Então, bem, vocês não sabem o que tem de maracutaia para se chegar até aqui. Não posso dizer. Quer dizer, ainda. Precisaria, talvez, pedir permissão para a Indústria da Depressão. E também adquirir algumas ações. Mas, a questão é, cheguei aqui, fiz por merecer, acho eu, e na verdade não me entendam mal, a questão da maracutaia repentinamente me lembrou Jim Jones, aquele criativo pastor que, num passe de mágica e um pouco de suco de uva batizado, mandou para o além todos os seus novecentos seguidores. Sim, ele também foi junto. Curioso, não sei por que essa idéia me ocorreu...A mente não passa de um órgão de reflexo. A questão, prezados e prezadas, que ao tomar posse, sendo este portanto o discurso da posse, achei de bom tom começar com um pouco de sinceridade. Assim, não posso garantir, pelo menos agora, se no futuro haverão novas eleições. Dois motivos norteiam essa decisão, embora eu só possa revelar um deles – a questão das campanhas. Cáspite, quanta ignomínia. E, onde já se viu, o sujeito prometer ao público que não vai faltar às sessões? Percebem? Algo está errado com a política. Seria o mesmo que um dentista prometer que não vai extrair os seus rins. Bem, isso posto, vamos ao tópico seguinte. Uma das primeiras medidas do meu governo será pedir emprestado, ah sim, eu posso pedir, tenho muitos amigos por aqui, não me custa nada, dois telefonemas e tudo se resolve, enfim, vou pedir umas viaturas emprestadas, colocar nelas alguns víveres e sanar um pequeno problema que persiste em nosso país. Pessoas mal alimentadas acabam fazendo todo o tipo de bobagem. Não me parece justo. Reparem que eu disse nosso país, e não meu, poderia dizer meu, já que há tempos venho dizendo meu governo, meu estado, meus correligionários, meu cargo, tudo meu. Assim, vamos ao nosso. No nosso governo, como medida número 1, não se falará mais em Copa 2014, pelo menos até dezembro de 2013. Muito aborrecido, isso. Desde 2010 só se fala em 2014. Fiquemos por agora e vamos à questão dos policiais que decapitam pessoas em Itapecerica da Serra. Os senhores podem ficar sossegados que nosso governo não será um governo de retaliação. Muito simplesmente, por conta de uma invenção, a qual denominamos Máquina do Tempo, desenvolvida por mim e meus correligionários, (ah, chegou a água, obrigado), vamos colocar nela os policiais que decapitam e mandá-los para o local mais adequado às suas inclinações. Pensamos na alegre festa da Bastilha, mas aquilo foi um tanto sistemático em demasia, eles poderiam se entusiasmar. Talvez o Japão feudal, com os samurais e aquelas espadas ornadas...Estamos estudando. Outras pessoas, saibam os srs. e sras., irão participar da Máquina do Tempo. Nosso governo será muito democrático. Eu continuarei ao telefone, pedindo viaturas, desta feita com medicamentos e médicos de verdade, pois existem médicos falsos, enfim, médicos de verdade, para atender a domicilio, pois nem todas as pessoas estão bem de saúde e, querem saber o por que dessa iniciativa? Muito simples. Tudo no nosso governo será muito simples. Fiquei sabendo, de orelhada, que em governos anteriores sempre houve a extrema preocupação para mandar viaturas às casas das pessoas, por motivos outros que não os dos víveres e dos médicos.

Assim, estou apenas aplicando o CPC – coeficiente de pensamento coerente. Algo que iremos tratar no próximo discurso. Agora vejamos...ah sim, a questão da educação. Assunto da mais alta importância. Os srs. e as sras. podem reparar que ninguém mais fala “por favor”, “com licença”, “muito obrigado”, “desculpe”, etc. Eu e meus correligionários estamos criando universidades especiais com cursos intensivos de educação. Até os que não sabem ler poderão dizer “boa tarde”, “bom dia”, e os que sabem serão multados, caso não o façam. Mas deixemos a questão das multas para outro dia. Muito aborrecido, isso. Bem, acho que por hoje é só, resta-me congratulá-los por tão eficiente escolha e reiterar que nossas medidas, ainda que simples, serão eficazes na concretização de nosso maior ideal – o de que ninguém - devidamente alimentado, sanado e educado, jamais terá desculpa alguma para desistir dos próprios sonhos.

Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 18/09/2010
Reeditado em 21/09/2012
Código do texto: T2505705
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