A PESSOA DE CRISTO

Para falar sobre a pessoa de Cristo, precisamos entender o que é cristologia. Cristologia é a doutrina da igreja acerca da pessoa de Jesus como o Cristo. A palavra Cristo é o equivalente grego da palavra hebraica “Mashiah” (Messias = ungido). É a doutrina central do cristianismo. É interpretação de Jesus como o Cristo de Deus, a partir do ponto de vista da fé da igreja cristã.

Em tempos mais distantes houve a tendência teológica de começar a estudar a cristologia como o dogma da encarnação. Qualquer ensinamento contrário era tido como heresia. Todavia, diante da teologia moderna, o dogma não mais funcionou como ponto de partida. O dogma teve que ser apresentado como uma interpretação legítima do relato neotestamentário de Jesus, o Cristo, nas categorias do mundo helenista.

Em tempos atuais há consenso entre os teólogos de que a cristologia deve partir de baixo. É neste ponto que se encontra o maior significado da nova busca do Jesus histórico. Os pesquisadores concordam que é historicamente possível e teologicamente necessário penetrar até o ponto do querigma neotestamentário e atingir tradições que comunicam algo fidedigno sobre Jesus de Nazaré. O dogma e o querigma não são suficientes para fornecer a base e o conteúdo da fé. Não podemos separar a pessoa de Jesus de seus ensinos. Sua mensagem sobre o Reino de Deus é sempre misteriosa. Não oferece definição ou descrição direta. O mistério está nas palavras que pregou, nas parábolas que contou e nos milagres que fez como sinais do reino de Deus. Ele proclamou a vinda do Reino de Deus com apelos de urgência.

Um dos maiores debates da moderna pesquisa do Novo Testamento tem sido em torno da pergunta se Jesus esperava a chegada do Reino no futuro muito próximo ou se já estava sendo realizado no presente.

Os evangelistas interpretaram a morte e ressurreição de Cristo, como a realização do Reino, pois para eles a vinda do reino se daria num futuro mais próximo possível.

A identificação de Jesus com Deus não aconteceu sem grave perigo para a fé da Igreja Cristã. O perigo existente na atuação da divindade de Cristo era o de que a fé poderia perder de vista a humanidade real do homem Jesus. No período neotestamentário, e cada vez mais ao longo do século II, desenvolveu-se uma tendência de ver Jesus unilateralmente em termos de divindade. Decorrente desta visão surgiu uma doutrina herética chamada docetismo, difundida entre os gnósticos, cuja base de ensino era que Cristo tinha um corpo aparente. Ele apenas pareceu sofrer e morrer. Docetismo vem do termo grego “DOKEIN”, que quer dizer parecer. Marcião foi o teólogo que popularizou esta doutrina. Ele ensinava que a matéria é mal e a carne irreal. Por isso quando Deus se fez homem e o Verbo se fez carne, foi só aparentemente.

Outra doutrina herética do período é o ebionismo, que apresenta Jesus como meramente humano, negando-lhe a divindade. O termo “ebionismo” vem do vocábulo hebraico “ebionim”, que significa pobres.

Essas heresias cristológicas à direita e à esquerda pareciam pólos separados um do outro. Um lado afirmava sua divindade, outro a negava.

A fé cristã tem um grande interesse pela historicidade de Jesus Cristo. A humanidade de Jesus não pode ser confinada ao seu estado terreno de existência, mas tem continuidade com a realidade pós-ressurreição de Jesus Cristo como o ser escatológico. A confissão da verdadeira humanidade de Jesus foi elaborada pela primeira vez nos escritos dos pais antignósticos Irineu, Hipólito e Tertuliano, no século II dC.

A verdade da encarnação é que Deus assumiu uma realidade verdadeiramente humana, de modo que, em Jesus Cristo, ele está em ambos os lados do limite que separa o criador da criação.