Escola decadente

O nosso conhecimento é fruto do meio ou o meio é o fruto do nosso conhecimento?

A vida que temos é feita pelas oportunidades que aproveitamos ou que deixamos passar.

Falar em superação? Não há como superar quando tudo que você vive significa o assassinato dos seus sonhos. É preciso tempo para ler, é preciso tempo para escrever, é preciso tempo para pensar, para aprender. Mas o que temos? O que vemos? O que vivenciamos?

Tempo, tempo para ser gente grande, tempo para trabalhar, tempo para cuidar da casa e da família, tempo para se divertir, tempo para esquecer. Mas não há tempo para ler. É preciso viver. Como viver sem saber? Como saber sem conhecer? Como conhecer sem aprender? Como aprender sem ler, sem estudar?

É preciso querer, os discentes quererem, os docentes quererem, os governantes quererem. É preciso poder, poder renunciar um pouco do tempo para adquirir conhecimento, poder ser responsável pelo exemplo que é dado aos outros, poder esquecer os medos para conseguir alcançar um objetivo, poder não escutar quando as outras pessoas não acreditam, poder se responsabilizar pela consciência da formação de um novo brasileiro, poder não limitar a capacidade por causa do meio.

Superação? É fácil falar em superação, quando se sabe o que se quer. Quando se sabe o que superar, como superar, o que alcançar e quem se é. Afinal, quem são essas pessoas que conseguem “apesar de”? São vítimas ou palavras? Talvez um pouco de cada.

E depois de superados os problemas? O que vem a seguir? Trabalhar e ser igual? Lutar, ter a ilusão da vitória e depois descobrir a realidade?

No final não sabemos o que deu errado. Será que fomos nós? O meio? Os outros? O sistema? Em que parte foi perdido tudo o que poderíamos ser?

O que é bom para uma cultura pode não o ser para outra. Ensinar, por exemplo, uma gramática, baseada em textos literários portugueses do século XVI, nos tempos atuais é impor uma cultura de outro país e de outra época, uma cultura que foi dominante e que continua nos dominando com a prescrição de como deve ser a língua falada no Brasil.

O homem é um produto de evolução do meio onde vive. Então se vivemos em meio a pessoas analfabetas, estamos destinados a sermos pessoas analfabetas ou de pouco estudo. Se crescermos em meio a pessoas marginalizadas, nada mais comum que sermos “marginais” quando adultos. A sociedade, na verdade, espera que seja assim e o que não segue essa lógica passa a ser exceção. A mobilidade social e cultural existe, mas as pessoas não acreditam nela e, grande parte, não ousa a buscá-la.

O homem precisa de reforços. Como os alunos podem ter reforços se quando conseguem chegar à escola, muitas vezes não há professores e os professores que há, não são capacitados devidamente para lidar com as diversas situações com as quais se deparam dentro da sala de aula? Além disso, como obter um reforço se grande parte das escolas não tem uma estrutura planejada e organizada para receber os alunos e “maximizar o poder de aprendizagem” destes?

Educação é transmissão de cultura e de práticas sociais para a escola comportamental. Cultura e práticas sociais das classes dominantes, ou seja, diferente da vivida no sertão de Pernambuco, na periferia de São Paulo ou do Rio de Janeiro.

Algumas escolas tentam mudar algumas coisas, pintam as paredes e se vangloriam de muitos alunos terem passado nos exames para cursar o nível superior. Então qual o motivo da existência das “cotas” e de programas que facilitam a entrada dos alunos da escola pública nas universidades? Por que essa segregação entre alunos de escola pública e escola particular? Se a escola mudou, então os discentes deveriam concorrer sem distinção da unidade de ensino, mas não é o que vemos atualmente. O que vemos é um mascaramento das deficiências da escola.

Quantos escritores, pintores e tantos outros artistas, cientistas e esportistas a “escola” tem sufocado? Que tipo de escola nós queremos, uma escola com uma metodologia do século passado que formava pessoas passivas e caladas que serviam apenas como mão de obra para as fábricas ou uma escola que forme pessoas críticas, determinadas e conscientes?

*Texto produzido para um trabalho na disciplina de Estudos sócio-históricos da educação