ELEIÇÃO E EDUCAÇÃO

Passado o vendaval das eleições faz-se necessário a parada para o balanço, para a reflexão deste processo em que muitas vezes o coração tomou o lugar da razão no embate para a conquista de corações e mentes na busca pelo voto e o que este representa.

Quem convive nas escolas novamente pode presenciar que está tudo - via de regra - dominado. Não são poucos os professores, funcionário, estudantes que reproduziram a máxima: “escola não é lugar de falar de política”. Teve até um colégio da área central de nossa promissora cidade que alterou o Projeto Político Pedagógico-PPP para Projeto Pedagógico-PP na tentativa de evitar o debate político e suas implicações. Por outro lado, tornou-se notório a intromissão das Igrejas que demonizaram e endeusaram candidatos no intuito de fazer os fiéis votarem segundo os seus interesses. Até o Papa foi convocado para tomar posição e ser utilizado como moeda de troca. Os proprietários de empresas souberam demonstrar em quem desejavam que os seus operários votassem e nas câmaras de vereadores a disputa pelo voto não teve trégua. Infelizmente, na Rede Estadual de Educação o que se percebeu é que os professores encontram-se carentes de formação continuada que contemple a totalidade da sociedade em que o trabalho docente insere-se. É longo o caminho a ser trilhado para que o mito de que educação nada tem a ver com a questão da politização.

Toda campanha política é pedagógica, precisamos aprender com ela. Agora é o momento de avaliar este período e pensar o período seguinte. Fazer uma análise séria e prudente sobre o papel da escola na conscientização política de nossa juventude. Observou-se que os jovens na maioria não querem nem ouvir falar em política. Uma resistência nunca vista em nossa história. Faz-se urgente olhar para a juventude. Porém, antes será preciso enfrentar o conservadorismo da própria categoria dos trabalhadores em educação. Afinal, conforme o adágio popular: “um cego não pode guiar outro cego”.

Os trabalhadores (entre os quais fazem parte os educadores) são uma categoria numerosa e unidos tomam os rumos na construção de sua própria história. O respeito somente virá quando esta categoria entender-se enquanto classe, politizada, coesa. Deste modo, se colocarão como referência para a juventude, para todos os que acreditam que nenhum homem é superior ao outro e, por isso, a cultura do Senhor e do Escravo pode ser quebrada.

Atualmente, a escola sofre uma pressão constante para que a reprodução aconteça. Alunos críticos e capazes de compreender os mecanismos de dominação social acarretam problemas para o exercício do poder-dominação. Assim, a despolitização é geral. Todavia, é um equivoco pensar de modo mecanicista de que a escola é somente reprodutora da sociedade. Caso isso fosse verdade então engessaríamos a luta e a escola deixaria de ser um espaço de contradição. Apesar de nem tudo ser perfeito é possível que se potencialize a visão política dos alunos.

Atenta-se ainda para o fato da colocação do currículo oculto, que nasce positivo. Conservadores: é legal que os meninos aprendam implicitamente como as coisas acontecem na sala de aula. Existem coisas acontecendo na realidade. A construção de hábitos na vida é feita de maneira automática, como é o caso do machismo e sua reprodução. As meninas vão para a cozinha e os meninos brincar. Dado o seu caráter oculto há uma dificuldade maior em combatê-lo (geralmente a pessoa preconceituosa não se reconhece enquanto tal). O problema aumenta ainda mais na medida em que outra coisa bem diferente é sair da consciência, da teoria do que se deve fazer e ir para a prática. Este é um processo que demanda tempo e exercício constante.

Logo, é ingenuidade acreditar que pelo fato dos professores fazerem a leitura da página do sindicato agora eles vão mudar sua prática. Sabe-se que os professores lêem pouco, são fundamentalistas, não tem tempo para discutir política, estão sobrecarregados nos muitos afazeres. Sendo assim, resta perguntar para que serve a escola: reprodução: Indagação em favor da transformação social: A sociedade que temos é a sociedade que queremos: .

Que ao responder alguma destas provocações o leitor tenha a atenção para não tomar o particular como o universal. A fragmentação (resultado das contradições do próprio sistema capitalista) é o grande desafio a ser superado por aqueles que sonham ver a união dos trabalhadores em educação. O dia que os trabalhadores descobrirem a força da união então tudo será bem diferente. Trata-se do início para a construção de uma nova identidade social. Até lá revisitemos a história relevante dos trabalhadores em educação que lutaram pela união da categoria e revigoremos a energia e fervor juvenil.