ELEIÇÃO E PRIVATIZAÇÃO

O passar do tempo demonstrou que o ser humano não é uma máquina, um robô, alguém que nasceu para incorporar-se a lógica do capital, gerar riquezas, adoecer e morrer. As eleições demonstraram que o tema privatização é o “tendão de Aquiles”. Tanto o candidato “A” como o candidato “B” esforçaram-se para distanciar-se desta visão “administrativa neoliberal” em que o homem passa a valer pelas metas que consegue cumprir, onde a vida torna-se secundária diante da necessidade da empresa em ampliar os seus recursos econômicos. Pelo menos no discurso foi isto que cerca de 190 milhões de brasileiros puderam perceber.

A prática de privatização ao ser introduzida a partir da década de noventa, foi apresentada como a solução para os problemas nação brasileira. Sem uma oposição bens pátrios foram “vendidos” como é o caso da Telebrás, Vale do Rio Doce, Eletrobrás, entre outros tantos patrimônios nacionais. Com uma argumentação convincente os privatistas destacaram a morosidade do serviço público, a relevância da meritocracia, da competitividade. Com excelentes especialistas de marketing demonizaram o público e endeusaram o privado ao ponto de ainda hoje funcionários públicos fazerem a apologia do privado em prejuízo de sua própria profissão.

Todavia, basta observarmos os funcionários de supermercado, dos bancos particulares, para que a prática explicite a ideologia embutida na privatização que é bom para quem é rico (possui os meios para enriquecer ainda mais e pode pagar por educação e saúde de qualidade) e péssimo para o povo que para sobreviver somente dispõe da própria força de trabalho. A privatização trata-se de outro mundo e, por isso, recomendo ao funcionário público que trabalha, por exemplo, na Copel e defende a política de venda dos patrimônios públicos que se afaste do seu trabalho e faça a experiência como operário no setor particular. Uma pesquisa mais séria carece ser levantada na medida em que a rotatividade dos trabalhadores nestas empresas é enorme. Reina nestes locais a lei da selva, o “melhor que chore a mãe dele do que a minha”, ou seja, os instintos mais primitivos (deslealdade, inveja, ciúme) do indivíduo são aflorados. O darwinismo social impera e os bens sucedidos alegram-se com o castigo daqueles que não conseguiram se sobressair. O homem deixa de ser homem, tudo o que importa e vencer. Ele se anula diante do seu patrão, perde a saúde, vai trabalhar doente, porque sente inveja do caro do vizinho suporta os desaforos de seu senhor na esperança burguesa de atingir seu objetivo.

Passados algum tempo a população brasileira em sua esmagadora maioria compreendeu os efeitos colaterais da privatização, do problema do stress, do trabalhar com medo, do “banco de horas”, “sob pressão”. Na escola o tecnicismo, o treino acentuado para que os alunos façam a prova como se a vida se resumisse nisso.

Entretanto é acentuado o número daqueles que aprenderam com tropeços e hoje compreendem a função da escola na sociedade desigual. A ideologia (meia verdade) da meritocracia faz-se presente. Ela é um jeito rápido de fazer funcionar o sistema e atinge à todos. Não obstante, conforme já foi anunciado, sabe-se antecipadamente que a privatização é um mal, pois concentra riqueza em uma pessoa, num grupo, que colocará a sua voracidade em lucrar sempre em primeiro lugar. O trabalhador passa a ser uma peça que enquanto der lucro, cumprir as metas estará empregado e recebendo um salário por isso. No entanto, enquanto não houver pessoas que abram panificadoras, laticínios, supermercados para alimentar a criança que passa fome, não é possível alguém em juízo normal, com sanidade mental defender que a privatização é boa para a coletividade da população brasileira. Com os exemplos que já tivemos penso que não é preciso sofrer, ver as pessoas ficarem doentes, as margens da esfera social, para depois entenderem que a privatização é apenas uma faceta da ideologia liberal que justifica o capitalismo.

Filosoficamente, pode-se dizer que a lei da selva, da natureza (como deseja Rousseau) é boa dependendo da perspectiva em que o sujeito olha o mundo. Ou seja, ela é boa ou ruim em relação ao lado que o sujeito está. Para o capitalista (dono dos meios de produção) que explora a mais-valia é boa, este só tem a ganhar com as vendas das estatais. Ruim para o trabalhador que é livre para trabalhar e receber o que o seu empregador quiser pagar.

SolguaraSol
Enviado por SolguaraSol em 07/11/2010
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