O que me rege também me mata.

"O diabo empalidece comparado a quem dispõe de uma única verdade", diz Emil Ciorani. E não poderia ter sido mais feliz. Durante toda a história da humanidade talvez o fato mais presente seja o fanatismo religioso. É fácil validarmos essa afirmação voltando um pouco no passado. Tivemos a Idade Média dominada pelos dogmas da SICAR (Santíssima Igreja Católica Apostólica Romana), que abrangeu seus domínios da Europa para praticamente todas as regiões no mundo. Fanatismo vem do latim fanaticus, quer dizer "o que pertence a um templo", fanum. O indivíduo fanático ocupa o lugar de escravo diante do senhor absoluto, que, pode ser uma divindade, um líder mundano, uma causa suprema ou uma fé cega. O fanatismo é alimentado por um sistema de crenças absolutas e irracionais que visa servir a um ser poderoso empenhado na luta contra o Mal.

Mas o que é o Mal? O Mal, segundo os fanáticos, é tudo aquilo que não segue aos padrões de suas relativas religiões. Ou seja, o conceito de ‘’o que vem do Mal’’, para os fanáticos, é totalmente fútil e ultrapassado, levando em conta o mundo em que vivemos hoje, pois temos total liberdade de escolhas, temos o direito de ir e vir, e não são os cegos por uma única verdade que tem de discutir sobre isso.

O fanático é a antítese do herói e do entusiasta. Enquanto o herói e o entusiasta lutam por uma causa justa, o fanático assume uma atitude de intolerância às idéias alheias. O herói e o entusiasta podem até morrer pela causa que defendem, mas jamais o fazem para aumentar o número de prosélitos. O fanático, contrariamente, não recusa meios violentos e até cruéis para consegui-los. O fanático está sempre disposto a dar provas do quanto sua causa suprema vale mais do que as próprias vidas: dele, de sua família ou mesmo de toda a humanidade. Ele mata por uma idéia e igualmente morre por ela.

Exemplos temos aos montes, Hitler contra os judeus, o genocídio contra os indígenas por parte dos colonizadores da América, Homens-bomba e outros tantos mais.

Entre todos os problemas sociais existentes na nossa sociedade, o fanatismo religioso, ou qualquer tipo de fanatismo, se levado aos seus extremos, desponta como um dos que mais pode afetar o dia-a-dia da comunidade. Tudo que é levado aos extremos, tudo que extrapola a normalidade é perigoso e deve ser remediado. Não podemos – e espero que não deixemos – que o fanatismo se torne algo comum, se torne um fato social, seguindo a definição de Émile Durkheim, pois se assim acontecer, estaremos mais próximos do que nunca do caos total.