ENTRE OS MURROS DA ESCOLA

A escola, principalmente a pública, é um local onde acontecem muitas coisas. O debate e a reflexão sobre temas pertinentes e que possam ampliar a consciência social, política e econômica dos alunos depende do respeito que existe entre eles. Ao discutir tais questões com maturidade ela se torna um espaço que possibilita o desenvolvimento crítico, que reflete as informações, contextualiza e dá possibilidade para o aluno ampliar seus conhecimentos.

Além disso, muitos defendem a escola como um lugar de sociabilidade de jovens, adolescentes, vendo neste seu papel primordial. Entretanto, o anunciado na teoria nem sempre se revela na prática e quem trabalha na escola, sobretudo no período da tarde, sabe que em todo momento existem brigas, desentendimentos, rivalidades que questionam a idéia romântica construída ao longo dos anos da escola enquanto “porto seguro” apartada da crise que vive a sociedade.

Certamente tem grande força a ideologia da meritocracia (reforçado por meio das notas, talvez isto ajude a entendermos o caso do estudante que em colégio particular ao discutir com a coordenadora por ter tirado nota baixa quebra os dois braços da mesma); do pensamento fragmentado (que isola os problemas focalizando-os. Dizem: ”a culpa é do sujeito-indivíduo, o sistema é bom”). No entanto, a realidade persiste para indagar os “véus”, as “nuvens de fumaça” que se esforçam para que o sistema econômico-social regente da vida em sociedade continue imaculado.

Apesar de ser uma frase simples, não são poucos aqueles que não conseguem compreender que a escola não é uma “ilha” e, por isso, tende em reproduzir as leis do “darwinismo social”, da competição desleal, das misérias oriundas do modelo social vigente. Assim, a avaliação que os alunos fazem entre si começa com o carro que cada um chega já no primeiro dia de aula, a marca do tênis, da roupa etc. Por falar nisso, talvez aqui esteja uma das razões para a resistência ao uso dos uniformes escolares, tão visível entre alunos (sem luz).

Entende-se, que a escola deva preparar os estudantes para a vivência da cidadania e para o trabalho. O problema é se a escola organizada do modo que está dará conta de cumprir está nobre missão? O aluno das séries iniciais está preparado para permanecer durante quatro horas, sentado num banco escolar, “aprendendo o tempo inteiro”, como se fosse um mini-adulto? É imediato e todos percebem as transformações na sociedade contemporânea, todavia, a escola insiste em continuar nos moldes tradicionais?

Atualmente as brincadeiras dos alunos no pátio escolar estão bastante violentas: eles brincam de lesma (cuspir na mão e passar no rosto do colega); “chá de cueca” (em grupos pegam a cueca do aluno e o levantam do chão, por vezes a mesma não aguenta e rasga); [...]. No colégio “O” a diretora assustada fala aos professores: “voltem para sala de aula antes que o pior aconteça (os alunos briguem) e tenhamos que chamar ‘socorro médico’”. Nesta fala compreende-se qual a função dos professores que tornam-se pais, psicólogos, policiais, enfermeiros, advogados, e aos poucos passam a perder a própria identidade profissional.

Por fim, ressalta-se que num período relativamente curto o Brasil conseguiu universalizar a oferta de ensino fundamental. Assim, do ponto de vista qualitativo tivemos uma grande conquista, porém a luta deverá ser incansável para que a escola avance do ponto de vista qualitativo.

SolguaraSol
Enviado por SolguaraSol em 23/11/2010
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