TROPA DE ELITE II E SEU ENSINAMENTO

Parte-se do pressuposto que o sujeito é educado em cada momento da sua existência a partir das relações que estabelece no ambiente histórico cultural onde vive. Assim sendo, as músicas, filmes, palestras, teatros, são instrumentos de mediação que associadas ao contexto social vivenciado pelos indivíduos os formam de um determinado modo. Exemplo disso, vale recordar daqueles que foram educados dentro do exército, do seminário, num convento. Com o passar do tempo, a formação torna-se uma couraça (armadura) que, uma vez cimentada, os acompanha onde quer que estejam.

Em apreço ao que acontece atualmente na cidade do Rio de Janeiro onde tantos carros foram queimados e seres humanos assassinados, convém que seja feita uma reflexão acerca do filme Tropa de Elite II, no intuito de perceber as categorias de Estado, sociedade, educação e indivíduo que nele se encontram presentes. De princípio, destaca-se que está produção cinematográfica “glamouriza” a tortura e os assassinatos cometidos contra os bandidos favelados, na justificativa do reforço da falsa idéia de que o Estado “purgatório da beleza e do caos” está em guerra. Buscam convencer o senso comum de que é preciso intensificar a pancadaria e aumentar o poder de fogo contra os “bandidos”. Tal como sua primeira versão o filme é fascista e busca naturalizar a violência. Seus efeitos podem ser verificados no dia a dia, quando se ouve dizer aqui e acolá: “tem que entrar no morro do alemão e matar toda aquela ‘gentarada’”. É como se uns fossem mais que os outros no direito de viver. Sem ter presente a noção de totalidade e contradição o leitor menos avisado, muitas vezes, passa a vociferar contra seus próprios interesses. Hoje são aqueles pobres distantes, que não lhe dizem respeito, amanhã poderá ser o miserável que pertencem a sua própria família. E daí?

Por isso vale destacar os escritos de Hélio Bicudo em seu livro Meu depoimento sobre o esquadrão da morte: “A violência policial exacerbada sob o pretexto de restabelecer a lei e a ordem se constitui na ante-sala dos regimes autoritário”. Sem reflexão, a caveira, símbolo da morte passa a encobrir o verde-amarelo tradicional. Todo filme é construído e defende certa ideologia, as finalidades estão presentes e nem sempre são perceptíveis. De modo rasteiro esta “epopéia do cinema nacional” apresenta o Estado, a sociedade, a educação e o indivíduo de modo superficial e é relevante questionar a quem isto beneficia. Ou seja, porque ele não apresenta uma reflexão mais aprofundada sobre os fundamentos que regem a sociedade do capital? A falta de entendimento conduz a uma série de equívocos que não são somente teóricos, pois ocasionam a morte de inúmeros cidadãos indefesos e inocentes.

O Rio de Janeiro segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é o quarto Estado brasileiro mais violento. Respectivamente o Alagoas, Espírito Santo e Pernambuco lideram neste ranking. Porém, a questão é muito mais séria, vai além da “caça as bruxas”, do saber quem é melhor ou pior. O problema da violência articula-se intimamente as falhas que o sistema capitalista produz por si só, devido à lógica do lucro que é o seu pilar fundamental.

Talvez o verdadeiro motivo para o sucesso de tal produção ideológica seja o fato dele (como tantos outros) mostrar partes da realidade para distrair a população e mantê-la alienada. A violência dos que morrem inocentemente por inanição nas periferias não dão audiência e parece que não comovem mais ninguém.