Ela se olhou no espelho
Já eram duas horas da manhã e seu despertador estava pronto para tocar as seis. Mesmo assim, Helena estava acordada, olhando a rua com prédios apagados de poucas janelas acesas.
Ela queria refletir sobre tudo o que fez e o porque de sempre se envolver em problemas grandes, daqueles que normalmente são evitados pelas pessoas.
Bebeu um cálice de vinho e foi até seu aposento. O espelho da cômoda ao lado da cama refletia uma mulher bonita, mas diferente da que era antes. Uma mulher que não tinha mais o que teve outrora.
Ela se aproximou, e pode ver com mais nitidez os cachos de seus cabelos pretos e longos. Ficou face a face com o espelho, e pode ver seus olhos pretos e redondos que emanavam uma sinceridade profunda.
"O que foi que fizeram com você?", ela perguntou com os olhos. "Quantas coisas você passou, e continua aqui, de pé, inteira.", pensou enquanto erguia os ombros. Mas já era tarde. Era hora de dormir.
Ela apagou a luz, deitou. Helena não tinha marido, nem namorado, nem filhos. Era solteira, magra, com pés calejados de dança e mãos de veias estufadas. Tinha dentes grandes e amarelos, de quem já fumou uma dia.
Ela não era triste, nem feliz. Sabia que sua inteligência era boa para encontrar soluções inovadoras. E agora, tinha mais consciência da resistência que as pessoas têm pela inovação.
Mas ela iria surpreender novamente. Agora, sem querer mudar o mundo, nem discutir sobre a moral da sociedade. Helena dormiu, e nunca mais acordou.