Cegos - Uma lição de perseverança (Regina Célia)

Palestra ministrada pela professora e psicóloga Regina Célia, 42 anos, deficiente desde os cinco anos, realizada na faculdade Chafic-Tucuruvi dia 04/02/2010.

A teimosia muitas vezes é necessária para que possamos chegar aos nossos objetivos. Em 1967 nascia Regina Célia, filha de um casal de 36 anos que já tinha dois filhos homens, ela nasceu saudável, o pai logo que a viu, notou que sua pequena menina possuía lindos olhos negros. Regina, aos cinco anos estava passeando com a mãe e enquanto subia uma escada tudo ficou escuro, não entendendo o que acontecia e ainda confusa ela começou a apalpar o chão, sua mãe lhe perguntou o que ela estava procurando ali, e ela respondeu: “Mãe, não estou enxergando nada”. A mãe e o pai a levaram ao médico e foi descoberto que ela tinha catarata congênita, o pai logo notou que seria algo grave, pois havia manchas brancas sobre os olhos de sua pequena, ela seria uma garota cega. As primeiras dificuldades apareceram aos sete anos ela precisava estudar, mas em sua época a maioria de escolas para crianças especiais eram como depósitos, as crianças permaneciam a semana inteira na escola e somente nos finais de semana ficavam com seus pais, isso fazia com que a criança criasse vícios, hábitos, se tornando institucionalizadas. Para encontrar uma escola com períodos mais curtos seus pais tiveram que procurar bastante, geralmente as escolas eram bem longes de sua casa, o que dificultou um pouco em sua alfabetização que foi realizada apenas aos oito anos pela professora Isabel no colégio Silva Jardim. Sua mãe super protetora fazia tudo por ela desde trocar sua roupa até pentear seus cabelos, ela era a única menina entre três filhos, só que quando a Regina Célia tinha 14 sua mãe veio a falecer vale lembrar que ela passou a ser a única menina da casa, a única deficiente da família e em uma fase onde as meninas aos poucos viram moças, ela pode contar apenas com suas amigas para obter informações que a ajudassem a crescer, pois tinha vergonha de fazer certas perguntas a seu pai. O pai casou novamente com uma pessoa maravilhosa que a ajuda bastante. Regina acabou a 8ª série e o pai disse que ela já estava alfabetizada e já sabia o fundamental, que como não iria trabalhar deveria ficar em casa, porém ela insistiu e chorou tanto que o pai acabou deixando que ela realizasse sua vontade de fazer magistério, ela era boa aluna, se esforço bastante para aprender e terminou o magistério tendo bons conhecimentos. Ela terminou os estudos do magistério e novamente seu pai queria que ela ficasse em casa, pois conforme seu pensamento não haveria mais nada a fazer, ela viveria de sua aposentadoria e nada mais faria da vida. Sua amiga lhe falou sobre um concurso público, o que a deixou bastante empolgada, porém ela sabia que seu pai não iria deixar que ela fizesse então sua amiga resolveu pagar para ela, foi combinado que no dia da prova ela iria falar para que o pai de Regina Célia deixasse que ela dormisse em sua casa, então ela acabou por fazer a prova e as duas passaram no concurso (ela passou com uma nota melhor do que sua amiga que já era formada). Ela teve de dar aula para crianças que enxergam, ela trabalhava com rodízios, onde os professores dividem as matérias, ela pegou 91 alunos e na época possuía a ajuda de um professor auxiliar, durante esse tempo não houve reclamações entre os pais, pois ela e sua amiga trabalhavam em conjunto com muita criatividade. Porém mais tarde os professores auxiliares foram retirados de sala de aula e ela acabou pegando uma sala de 3ª série, então ela descobriu que possui uma limitação, ela não poderia escrever na lousa, pois as lousas de escolas convencionais não possuem linhas táteis. Os pais começaram a fazer protestos na sala da diretoria porque diziam que a professora não ensinava os seus filhos a ler e escrever (vale lembrar que eles estavam na 3ª série), esse foi o motivo de discriminarem a professora. Portanto tiveram de mudá-la de cargo, colocaram ela para trabalhar como secretária na escola, cargo que ela ocupa até hoje e adora e acha tão importante quanto o cargo de professora que ocupava. Regina Célia foi à única aluna cega de sua sala a se formar como psicóloga na Faculdade Uniban e hoje além de continuar no cargo de secretária, ministra palestras em escolas, igrejas e empresas. Sua história é uma lição de vida e perseverança.

Ewelyn Kinha
Enviado por Ewelyn Kinha em 15/07/2011
Reeditado em 15/07/2011
Código do texto: T3097353
Classificação de conteúdo: seguro