Quando alguém me devora, tem que me engolir inteira ou então tem que desistir de mim!

Eu vivo o momento em que estou, e neste momento, eu me desfaço em letras aleatórias e palavras jogadas ao acaso. Eu sou edificada em recatos que não compreendo, em recados que esqueço e em símbolos sem sentido. Mergulho em respostas que não têm perguntas e me refaço em becos escuros e sem saídas.

Sou uma mulher que encontra no seu tempo os sonhos de um futuro inquieto. No entanto, sou mais que pensamentos evasivos e trilhas. Sou mais que vozes e gritos. Eu posso gritar, por que me dou este direito!

Se me perco em desencantos e atitudes sem nexo, é por que eu não estou pronta para terminar. Estou inacabada e sem contornos, e continuo dizendo que não respeito meus limites. Mas essa sou eu. Em frente a um espelho ou de costas para mim mesma!

Quando mergulho dentro de mim, e encontro meu fundo arenoso, eu me descubro como uma alma que ri dos próprios descaminhos e faz suas escolhas. Mesmo quando elas doem muito, como doem agora! Eu me deixo levar assim, pelos desencontros que não aceito.

Se vivo do impossivel e fecundo ilusões despedaçadas, eu também recolho em meus braços, os meus pedaços, e os grãos de areia que piso onde passo. Assim vou me construindo, me refazendo...

Se vivo de pensamentos, também é certo que compartilho com as minhas mãos e com os meus olhos, todos os desejos que são meus, só meus! São desejos silenciosos que brotam de noites e estrelas que cruzam oceanos e finalmente encontram seu porto inseguro, mas é onde meus olhos descansam.

Não desejo a paz de um amor eterno, eu busco as paixões incontidas e gritantes, as bocas apertadas e as emoções inacessíveis.

Eu posso me questionar! Os outros não!

Eu posso mudar meus rumos e me desapaixonar por alguns instantes, eu posso passar os dedos sobre minhas cicatrizes e cutucar minhas velhas e amargas feridas. Eu posso! Os outros não! Eu não deixo que me toquem mãos e fantasmas.

Eu cultivo lembranças que perdi longe de onde vivo, e choro com histórias que não são minhas. Sou livre para isso.

Sonhos? Como os tenho! Alguns são tão reais, que têm música de fundo

Olhos? Tenho vários, cada um apontando uma direção, e quando não sabem para onde devem ir, esperam a chuva passar.

Vida? São tantas que vivo, que vez por outra, uma se confunde à outra e geram uma nova alma, que dentro de mim, vivem conflitos e prazeres!

A mulher forte, madura, segura, às vezes se sente cansada e dá lugar à mulher que sonha, que ama e chora, com tanta intensidade, que se traduz em olhos e desejos.

Ainda não sei ao certo para onde vou, mas sei onde está o meu lugar e onde quero ficar!

Ainda não descobri meu nome nesta vida, mas é certo que são muitos e todos são escritos pelas mesmas letras aleatórias, sou traduzida em dialetos incompreensiveis!

Eu posso me devorar, posso ser devorada... Mas ninguém me deixará em pedaços! Quando eu me devoro eu sou apenas um perfume e quando alguém me devora, tem que me engolir inteira ou então tem que desistir de mim!

Rita Marangon
Enviado por Rita Marangon em 28/07/2011
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