SER FELIZ DÓI

Estou procurando uma história para escrever, sem dores, sem amores rasgados, sem prisões, sem permissões... Uma história, onde o vento, senhor de todos os deuses inunde os porões das velhas fotografias abandonadas em baus silenciosos, adormecidos sob as ondas do mar mais alto...

Na verdade, o que exiiste mesmo, são estradas sem nomes, ruas sem memórias e vendavais distantes, que bêbados de sonhos e canções, despertam com todas as ausências estranhas... Não sei bem, o que grita no espaço que as pessoas deixam em meus vazios, talvez vozes que falam palavras de consolo, talvez gritos de quem acabou de acordar em um quarto distante, distante de tudo e de todos...

Fumaças e sinfonias aquecem as almas solitárias enquanto as brumas dos sonhos repassam recordações e tangos que nunca serão dançados. Eu sou a sombra dos projetos sem nome que desenhei nas paredes da casa da infância que adormece entre os véus e os céus... Longe se vão os talheres de prata, os pratos que dormiam sobre a mesa a espera de dias de sol e chuva... Longe se vão os sorrisos e os choros, longe se vão o dias construídos sobre os destroços do que jamais se ousou sonhar.

Ser feliz dói, doi em pedaços pelas curvas que se esquece, e pelos poemas que não se fez. Ser feliz, dói em pedaços de sinfonias silenciadas em dores profundas e quietas, ser feliz, é o que mesmo?

Talvez eu tenha mil perguntas sobre essa nossa vida, e talvez eu nunca saiba como responder aos seus assombros... Talvez eu seja covarde demais para me deixar morrer, para me deixar viver em seus braços e em seus castelos...

Talvez eu seja apenas frases dos contos que eu li na infância, e novelas que me fizeram chorar em amarga juventude...

Sou pontes de ligação

Sou águas da destruição

Sou interrogação...

Sou noite que te acolhe, e dia que te esquece

Sou apenas uma música que se ouve no quintal

Enquanto uma sinfonia de pardais, ameaça com calor os amanheceres que reflorestam a vida...

Eu sou tudo que te exclama em vigoroso silencio

Em mudez morta, de sono e de sinos

Que badalam tempestades

Nos arredores redondos de cada escurecer...

Rita Marangon
Enviado por Rita Marangon em 28/08/2011
Código do texto: T3187345