Por: Valdeck Almeida de Jesus
 
A quem interessa retirar as placas de sinalização de radar eletrônico de velocidade
 
Prefiro acreditar que tem muita coisa positiva por trás da decisão de desobrigar os órgãos de fiscalização de trânsito de colocar avisos sobre a localização de radares eletrônicos. No entanto, eu penso em quem poderia, em tese, lucrar muito com a mudança na legislação.
 
Não faz muito tempo que surgiu a indústria da multa. Basta ler os jornais de dois ou três anos passados e se percebe que fiscais corruptos e governos gananciosos encheram os bolsos, empresas terceirizadas e órgãos de controle de tráfego se locupletaram. As investigações aqui e ali conseguiram diminuir a roubalheira, pois a ordem pública sempre precisa ser estabelecida, para manter as aparências.
 
E como vivemos numa sociedade de aparências, as leis são feitas também para encherem as bibliotecas e para fazerem de conta que o país funciona. Com raras exceções, como na cidade de São Paulo, que preferiu manter a sinalização de advertência de presença de radar, o restante do país prefere se calar. Afinal, quem faz leis e regulamentos, sentados em gabinetes com ar condicionado, deve saber muito mais do que quem transita pelas ruas do Brasil.
 
Pelas ruas de todas as cidades, entretanto, o que se vê é engarrafamento, ou “trânsito”, como se diz em Sampa. Em avenidas com velocidade máxima de 80km/h só é possível trafegar a 40 ou 50km/h. Infestar as cidades com quebra-molas de todos os tamanhos e alturas, com distâncias absurdas de um para o outro, é outra prática de governos incompetentes para gerir até mesmo as contas domésticas. A prioridade que os governos dão para o transporte público é zero, então, cada um se vira como pode e, mesmo onde há rodízio de veículos por numeração de placas de carros, as pessoas compram três, quatro, quantos veículos podem para driblar os ficais.
 
Não se pode negar que a presença dos radares inibe velocidade alta e diminui os acidentes e mortes no trânsito brasileiro, que mata mais que muitas guerras. Mas a educação para dirigir, que deveria começar na infância, praticamente não existe. A boa sinalização das rodovias e ruas é uma utopia. A conservação do asfalto também fica para segundo ou terceiro planos.
 
O que nos resta? Comprar GPS e enriquecer os fabricantes desses equipamentos. Até outro dia era proibido instalar qualquer tecnologia que detectasse a presença de radar de velocidade. Agora, com a autorização governamental, com certeza ninguém vai ficar sem um desses no carro.
 
 
 Quem quer ser flagrado por um radar em ruas e avenidas que têm os limites de velocidade modificados a cada dezenas de quilômetros?
 
- Atenção, radar de velocidade máxima a 200 metros. Você está acima do limite.
 
Obrigado, radar, obrigado GPS. Vou parando por aqui, senão levo uma multa por escrever além da conta.
 
 
Valdeck Almeida de Jesus é jornalista e escritor.
 
 
Publicado no jornal Tribuna da Bahia, 13.01.2012, Caderno Cidades, página 12
 
 
 
Reproduzido:
http://www.eunanet.net/beth/news_coluna.php?col=193&pst=5859
http://www.brasilwiki.com.br/noticia.php?id_noticia=48867
Valdeck Almeida de Jesus
Enviado por Valdeck Almeida de Jesus em 13/01/2012
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