O Circo

A educação do Brasil é como um circo (falindo). Temos professores que são palhaços, outros, marionetes e, alguns raros, mágicos. O governo é como o mestre-de-cerimônia que geralmente é o dono do circo também. E, claro, temos a plateia que é semelhante ao alunado.

Bem, os professores dos circos comuns, em sua maioria, se resumem em palhaços e marionetes. Os palhaços estão lá no picadeiro sem saber o que fazer direito, sem entender que podem (e mudarão) o futuro de inúmeras crianças. Os marionetes são os que despejam conteúdos incessantemente, sem se preocupar se a plateia compreende de verdade ou não e sem entender muita coisa daquilo “que passa para frente”. E, por fim, os que receberam a instrução adequada (porque muitos chegam à faculdade mal sabendo ler e escrever), fazem mágica com o pouco e faltoso material que recebem, com a plateia já muito desinteressada, a pressão do mestre-de-cerimônia que quer resultados etc. Esses são os verdadeiros mágicos (título que cabe também perfeitamente aos diretores que fazem milagres com as impagáveis verbas que recebem). Mágicos, inclusive, porque fazem os alunos compreenderem de fato, aprenderem mesmo, e não cumprirem uma obrigação.

Então, vêm os apresentadores e donos do circo que querem resultados, mas sem investirem um tostão a mais, preocupados, sempre, onde podem economizar para diminuir despesas e aumentarem seus pequeninos lucros/salários/benefícios e, claro, engordando mais os leões que esquartejam o bolso dos cidadãos. Interessam-se apenas pelas notas das avaliações no final dos anos. Os mágicos que se virem com seu pífio material, com seu mísero reconhecimento (e salário) e que se contentem em ouvir os mestres-de-cerimônia falarem mal de sua categoria e que a culpa pelo déficit na educação é única e exclusivamente sua.

Aí, tem-se a plateia que, assim como a do circo, vem diminuindo, mas, neste caso, em interesse, porque, segundo o apresentador do circo, só aumentam os números de alunos nas salas de aula. “Viva!”, ele grita. “Urra, nos tornamos um dos países em que os analfabetos estão sendo cada vez mais eliminados!” Sim, é claro, eliminados do mercado de trabalho, pois não têm capacidade, não têm a classificação necessária. São eliminados do futuro promissor que poderiam (e deveriam) ter ao entrar na escola, porque saem do circo lendo e escrevendo (o nome! “Viva, ele escreveu o nome!”, diz o apresentador), mas sem o mínimo de interpretação, de senso crítico, de preparação para o ensino superior, para a vida futura.

E o que acontece? Os alunos despreparados entram nas universidades (“Viva, o número de alunos de escola pública e baixa renda que entram em universidades está aumentando cada vez mais”, diz o irritante mestre-de-cerimônia, que não vê o número gigantesco de desistências e o baixo rendimento da maioria desses alunos). Os filhos desses apresentadores, obviamente, vão para os Cirque du Soleil que existem por aí (enquanto a plateia comum vai parar nos circos ali da esquina), onde se pagam astronômicas mensalidades e, no fim, claro, recebendo instrução de competentes mágicos, ficam com as melhores vagas nas melhores universidades, restando à plateia, agora palhaça, os cursos mais desvalorizados, entre eles, os de licenciatura.

Assim, temos a plateia cara-de-palhaço nos excelentes cursos de Letras, Matemática, Química etc. que não estão preparados para receber alunos que não conseguem interpretar um texto ou resolver um problema matemático que contenham mais de uma operação. O resultado? Os professores palhaços e marionetes, um ensino-circo, a nova plateia ávida pelo horário do fim da aula, o mestre-de-cerimônia cortando gastos, engordando leões, aumentando seus próprios astrais salários, exigindo boas notas do alunado no fim do ano ou estágio (e dando bolsa-circo para os pais que mandam seus pirralhinhos para os mágicos se tornarem adestradores também).

E aí? E aí que se tem uma nova geração-plateia cara-de-palhaço saindo dos circos e ficando sempre com os cursos financeiramente desvalorizados ou que não valem muita coisa no mercado de trabalho, como Administração ou Direito, porque não sabem o que fazer da vida, nas piores (e bota piores nisso!) universidades e com os serviços que ninguém quer.

Tiaggio
Enviado por Tiaggio em 15/01/2012
Código do texto: T3442870
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