Trabalho, Emprego e Sustentabilidade

TRABALHO, EMPREGO E SUSTENTABILIDADE

Empregar é um verbo interessante. Etimologicamente vem do infinitivo latino implicare. Poderá ser entendido como aplicar alguma coisa ou recurso para transformar uma coisa em outra coisa. Calma, eu explico, ou melhor, exemplifico:

Você pode usar uma ferramenta como o martelo, para pregar um prego que fixará uma madeira em outra. Mas, e o agente da ação, aquele que usa o martelo? Bom, ele é a pessoa que aplica uma força, uma energia, com determinada destreza, habilidade, inteligência ou conhecimento, para que o resultado da união desse chamado esforço conjunto, faça surgir um outro objeto, ou seja, que apareça o resultado de um trabalho.

O agente da ação poderá ser o empregador, aquele que emprega a força, as habilidades, a inteligência e o conhecimento, como instrumentos que lhe facilita obter um produto.

No decorrer do tempo, o detentor das habilidades todas começou a vender ou trocar o produto de seu trabalho. Era o empreendedor, que ajudava outros, não menos hábeis, porém em outras coisas, a ter suas vidas facilitadas. Quem tinha habilidade para determinada coisa, a produzia e a colocava também a disposição dos demais da comunidade. Surge com isso o escambo, que era a pura troca de produtos, resultados do emprego dos recursos disponíveis.

Essa forma rudimentar de comércio de mercadorias precisava de parâmetros para que pudesse avaliar cada produto, de acordo com o grau de emprego de habilidade, de materiais, de conhecimento e de inteligência.

Para que isso fosse possível, depois de longas experiências, identificaram-se produtos raros da natureza, portanto, valiosos, como o desejado e justo parâmetro para estabelecer o valor das coisas produzidas.

O sal, item raro e valioso, foi definido então, como a moeda que estabeleceria o valor comparado das coisas produzidas e que valorizava o emprego do serviço necessário para produzir um bem. Surgiu então o salário. Sim, isso mesmo, derivado do sal. Juntando o valor do serviço mais o material, também houve por tempos o costume de usar animais domésticos como comparação, que permitisse a troca justa, através do escambo. Usou-se por exemplo o boi ou a vaca como parâmetro nas trocas. Bois e vacas, no genérico são “pecus” no latim. Pecus quer dizer "cabeça de gado". A palavra tem a mesma raiz latina de "pecúnia" (moeda, dinheiro). Na antiga Roma, os animais criados para abate também eram usados como reserva de valor. Hoje temos a pecuária para definir especificamente a atividade da lida com esses animais. Daí porque temos o chamado valor “pecuniário” das coisas.

A existência ou aparecimento de maior ou menor quantidade do bem da natureza para avaliar as coisas, foi ajustando a necessidade da busca de outros bens para que se continuasse a ter parâmetros de valor dos produtos.

Fazer um negócio na época, convenhamos, foi se tornando muito difícil. A quantidade de sal ou bois para pagar determinada coisa, era impraticável. Apenas o transporte já inviabilizava a transação.

Passaram então os homens a usar moedas, que eram cunhadas com a figura de bois, ou efígies de governantes significando o seu valor ou caráter de validade e crédito, sendo naturalmente muito mais fácil o manejo de moedas que de mercadorias e animais.

Foi a revolução dos negócios no mundo daquela época.

A história da moeda está intimamente ligada à história do dinheiro e das trocas comerciais, especialmente no que diz respeito à passagem de uma economia baseada na troca direta para outra baseada na troca indireta (também chamada de monetária). A moeda surgiu em diversas civilizações, com diversas formas de representação do valor monetário: conchas, o sal, o ouro, a prata etc. Em uma acepção mais estrita, a palavra moeda refere-se a aparição de pedaços de metal estilizados e cunhados por uma instância governativa. A função das moedas metálicas e, posteriormente, do papel moeda, foi, pois, facilitar as trocas comerciais.

Mas, voltando ao uso ou emprego dos recursos dominado pelo homem para produzir coisas, percebeu-se que, determinado produto era mais fácil ou mais difícil de ser produzido. Assim, desde o começo, quando caía no domínio popular produzir determinada coisa, essa coisa era desvalorizada na medida em que era fácil consegui-la, ou teria valor pecuniário muito alto, que a tornava cara, dada a dificuldade para produzi-la, quer com matéria prima, inteligência, destreza, habilidade, enfim dos recursos a serem aplicados, mesmo para que fosse algo extraído da natureza.

A produção seriada de bens, o treinamento de pessoas para executarem determinado trabalho, o aperfeiçoamento, o uso de dispositivos facilitadores e multiplicadores do trabalho com menor esforço, o uso de forças naturais como a hidráulica e a dos animais, depois das máquinas a vapor e eletricidade, enfim, a maximização do uso dos recursos disponíveis, foi tornando competitiva a disponibilização de bens para a sociedade.

A matéria prima com os recursos, ou seja as coisas que ajudam a produzir, ou os chamados bens de capital, transformou-se no que hoje é a indústria, com suas máquinas e quem as opera para o empregador: os operários.

Aparecem com isso, na medida certa, o empregador e aquele que o ajuda, o que faz um trabalho mediante pagamento determinado através do salário, ou seja o empregado.

Mas, essa evolução não foi tão simplista assim. O homem é capaz de tudo e, para produzir bens e deter poder, ele guerreou, escravizou, explorou, matou direta e indiretamente, causou sofrimentos, usou da força operária como bem o desejou. Provocou revoluções, destruiu a natureza, explorou recursos que alimentariam a sua indústria.

Momentos agora chegam, nos quais o homem olha para trás e verifica o enorme estrago que fez, a grande quantidade de vítimas, ceifadas através do duro trabalho, das doenças profissionais, da avidez por lucro e poder desenfreado. Percebe o quanto a natureza sofreu, o quanto ele dela tirou em proveito próprio e pouco da riqueza distribuiu, o quanto gastou de seus produtos com guerras e disputas econômicas desenfreadas. O homem percebe agora aos poucos, que está tornando a vida no planeta inviável. Percebe que agora tem muito pouco tempo para reverter a situação em que ele se meteu. Isso, na hipótese de que tenha conserto o mal causado, penso ser irreversível. Usou desbragadamente os recursos e vê agora, que não garante mais para seus descendentes a continuidade de produzir meios que sustentem a vida no futuro. Percebe que a ciência buscou aos poucos sobrevida aos cidadãos do mundo, elevando a quantidade de pessoas sedentas do conforto abastado dos detentores de maior poder econômico.

O homem produziu uma enorme quantidade de coisas: no passado duravam gerações, hoje, duram o tempo exato de surgirem melhorias mínimas no produto. O homem até oculta a total utilidade de um bem, para que o consumo cresça e vai lançando as melhorias aos poucos no mercado. Assim, destruímos mais e mais, alimentando a ganância e destruindo materiais, o homem e a natureza por extensão. Como barrar essa tendência insensata e ignóbil de destruir os recursos dos habitantes do futuro? É difícil pensar que não herdamos nada e sim emprestamos de nossos descendentes?

O tempo agora é de buscar reverter esse quadro sinistro. Reza a atual doutrina de que devemos usar os recursos preservando a possibilidade de que as gerações futuras também usufruam das dádivas divinas da natureza. Devemos amparar nossas atividades em três grandes suportes ou sustentáculos desse pensamento, quais sejam, (1) usar de forma que a distribuição das benesses seja igualmente para todos de uma sociedade, (2) produzir de forma que a economia como um todo cresça o suficiente para não esbarrar nos limites do social anterior e sem destruir o que temos de maior bem que é (3) o meio ambiente do qual tudo tiramos. Assim, nosso futuro está determinado pela capacidade de harmonizar esses três suportes de nossa existência: o social, o econômico e o ambiental. Somente será possível a vida no planeta se ela tiver sustentabilidade no futuro, dentro dessas prerrogativas essenciais que determinam nossa existência.

Que preço terá essa nova idéia que veio para inibir o ímpeto ganancioso e egoísta do ser humano?

Não vale a pena pensar nesse preço, a única hipótese plausível é pagá-lo, sob pena da auto-destruição. E, movido pelo instinto de sobrevivência, o homem fará de tudo para superar essa ameaça, tal como dominou até hoje os males mais invisíveis que assolaram as populações do passado: as doenças e pestes disseminadas pelas bactérias e vírus.

Sem dúvida, tal como no passado, vencer essa batalha custará muitas vidas. As primeiras serão aquelas que sempre ficaram na periferia da sociedade, sem saber sequer porque definha, depois as levas de famintos crescentes, abandonando países e fronteiras sem sentido de existência. Os que defenderão os parcos recursos lutarão com armas, unhas e dentes para preservar o que lhes resta de recursos.

Lá na frente, surgirá o homem novamente, analogamente como naquela Arca de Noé que superou o dilúvio, mas que agora, com o aprendizado do sofrimento, mais uma vez, verá aos poucos a natureza se recompor e voltando com novas espécies a permitir a vida de seres mais inteligentes e cordatos.

Apocalíptico isso? Não, não se trata mais de ensinamentos bíblicos, mas sim, coerência com o que os antigos pregavam, e que se resumiu no apocalipse, através dos mesmos medos que atravessaram os tempos rumo à extinção.

Assim, caros amigos e pacientes leitores, façamos hoje do trabalho e do emprego, o uso melhor daquilo que temos emprestados do futuro, abreviando o final dos tempos, não da paciente natureza que se preservará, mas dos hominídeos, tão cedo surgidos e tão breve desaparecidos, como custo pela insensatez de não perceber tempestivamente quão grande fora o privilégio de ter vivido em um planeta único e maravilhoso. A permanência por aqui, dependerá única e exclusivamente dele e de sua capacidade de se adaptar com as transformações lentas e constantes do planeta. Como história, a inteligência humana já identificou todas as eras e suas condições de vida no planeta, para dar certeza de que, a coincidência de momentos é que permitem este ou qualquer meio de vida. Seguirá a natureza grandiosa do universo propiciando o surgimento das formas e adaptando-as ao meio, nesses momentos, até mesmo da extinção completa como se vê em planetas vizinhos, sem condições de vida semelhante a que temos aqui hoje, se é que eles um dia já reuniram as condições semelhantes às que hoje temos por aqui.

E, a Terra, um minúsculo grãozinho no universo do espaço sideral, seguirá seu rumo até o desaparecimento total, restando apenas uma força gravitacional daqui a bilhões e bilhões de anos.

Marco Antonio Pereira

1º. De Maio de 2012, empregado e trabalhador desde seus tenros anos de meninice...

MARCO ANTONIO PEREIRA
Enviado por MARCO ANTONIO PEREIRA em 01/05/2012
Reeditado em 05/05/2013
Código do texto: T3643349
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