Sábado Inusitado

Ao acordar pela manhã de um belo sábado de sol deparei-me com uma cena um tanto quanto inusitada. A tal ponto que achei que ainda estivesse dormindo; ou mesmo louco. Num canto de meu quarto, um CD e uma fita K7 discutiam calorosamente sobre quem era o mais importante, quem detinha maior utilidade.

-Ora, como tem a ousadia de invadir meu território? – era o CD.

-Invadir seu território? Aqui há espaço para nós dois. Não vês?

-Ainda tem a petulância de falar comigo? Não sabe qual é seu lugar?

-Ora, deixe de ser arrogante. Contigo falo porque comigo falaste primeiro. E se é que pode me responder, qual é meu lugar?

-Escondida. Não enxerga que é a vergonha de nossa categoria? Não enxerga que está mais que ultrapassada? Quem hoje te compra? Quem hoje te encontra?

-Pode ser difícil mesmo. Mas tenho meu valor. Ou você crê que é o único a passar a magia da música aos ouvidos de quem as ouve?

-HAHAHA... Mas é muito estúpida. Não é apenas música que armazeno. Não vê a quantidade de arquivos que posso carregar? O tanto que posso fazer pelo meu usuário?

-Posso até armazenar menos. Mas minha imunidade e capacidade de conservação são maiores que a tua. Ou vai negar esse fato?

-Você é muito corajosa. Acha que tem mais utilidade que eu mesmo?

-Não digo que tenho mais utilidade que você. Você nunca deve ter pensado que, uma vez gravado, é só essa vez. E se seu ouvinte enjoa de você? Vai comprar outro. Ou usar o computador. Que é bem mais avançado que nós dois. E no meu caso se alguém enjoa do meu conteúdo de forma bem simples pode regravá-lo.

-Ah é? E de quem você acha que dependerão para regravá-la? A mim irão recorrer.

-Não senhor. Esquece-se de meios tão úteis quanto você de me regravarem. Pode ser m vinil, e olha que é bem mais antigo que você. Até mesmo uma rádio serve como meio. Viu? Você não é o mais ou menos importante meio e nem será o primeiro ou o último. Como bem pode ver, todos temos nossa importância. Seja na função que nos determinamos a fazer e independente de nossa idade. A tecnologia chegou para ampliar cultura, conhecimento entre tantas coisas que se conhece, mas não apagou o que para tanta gente ainda é importante.

Após essa declaração da pobre K7, o silêncio se reestruturou naquele quarto. Fiquei relembrando tudo o que ouvi de ambos. Cheguei à conclusão de que a mensagem exposta ali foi direcionada a mim. Passei a valorizar ainda mais as coisas simples da vida. E também concluí que em vários momentos de nossas vidas, somos CDs e fitas. Como também somos ultrapassados e avançados. Depende do ponto de vista e da interpretação de quem os observa...

TJ Torres
Enviado por TJ Torres em 08/06/2012
Código do texto: T3712444
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