No ônibus, olhos seguem leis.

No caminho para o ponto, no salto para sinalizar a parada, na predisposição de querer ir de um lugar para outro, eis que surge a responsabilidade maior dos indivíduos pelo deslocamento físico na contemporaneidade. Logo dentro do veículo, ficar de pé sem moral, sentar preso na cadeira em diagonal reta sem submeter-se ao ângulo de curva, esforçar-se para não incomodar ou incomodar, olhar distante com medo de julgamentos, sentir pouco ou quase nada para não demostrar fraqueza, ser observado e se entreter com ilusões unitárias sobre tudo e sobre todos são algumas das possibilidades encontradas nas limitações da sociedade no séc. XXI.

Pois bem, certamente que quando me refiro ao cotidiano, muitos poderiam argumentar com base em história, filosofia e tantas outras que caberiam numa análise complexa. Mas nesse caso, neste momento, pretendo ser breve a criar um ponto chave de ligação com a reflexão do que está parado, com a fluência do que está em movimento.

Se é possível verificar o que está parado, diria que não consigo. Para mim, tanto a natureza diversa como as pessoas, profundamente, é toda movimento e muita intensidade. Neste problema "do movimento e do mundo parado", o (estático), sobre este último, não sei se consigo defini-lo pois até para defini-lo, teria que nada dizer e nada saber.

Alguns doutos poderiam dizer que já foi abandonada tese similar como a de Parmênedes 470 AC, que defendia que o "ser é" e que "Tudo está parado". Outros diriam que estou preso no dogmatismo de Platão (que vendo a dificuldade de que tudo está parado e que tudo está em movimento, foi obrigado a assumir algo, "O mundo das ideias"), ou quem sabe me beneficiaria com o movimento substancial da matéria em Aristóteles. Mas o que sei mesmo é que, num coletivo, num shopping, numa praia, num bar, ou em qualquer lugar que se vá, todos estão pensando, e de alguma forma, a energia que está para o movimento, logicamente se movimenta parado.

Salvo isso, diria que o que se movimenta, a partir da minha experiência, assimilo e copio para meu intelecto e assim formo uma ideia. Daí cito tese de Hume "Que as ideias são meras cópias das impressões provindas da experiência dos sentidos e dos sentimentos". Mas o que isso tem a ver com a verdade? Se copiamos de dados originários de nós, e se essas cópias são particulares, só nossas, que motivo temos de fundar senso comum e aterrorizar culturas e povos com leis universais?

Corriqueiramente aproveito este ponto, e argumento discretamente que entre indivíduos em um coletivo, diariamente observo todos vagando em pensamentos vazios, entediados, tristes ou felizes, em opostos divinamente ligados, em seus mundos definidos e assustados como numa selva.

Quando alguém resolve falar, --ouço:

--Ontem morreram 3, e hoje a bomba matou 5. (Os atentos)

--O jogo foi roubado.... (Dos saudosistas)

--Deus! -- Ele te salvará.........(Grita um predestinado).

--Não acredito em nada... (Observa silenciosamente um pseudo-cético)

Assim reinam os ídolos e reina o indizível, "Deus", é dito, como todos falam. Consequentemente, na falta do Deus supremo, onipotente, onipresente e virtuoso, dentro de nós, permitimo-nos falar o "eu" em primeiro lugar, o que alguns chamariam de livre arbítrio religioso, eu chamo de egoísmo natural que tende a infinito. No caso do ídolo, que por si só se delimita potencialmente por Deus, por ora assume caráter de: Pastor, Papa, Ivete Sangalo, Michael Jackson ou quem sabe Karl Marx, dentre outros.

Potencialmente, tanto para os ídolos terrenos quanto para a divindade, na crescente virtude que lhes é atribuída para formar seus moldes inalcançáveis de virtude, justiça, bondade, moral, sabedoria e brilho, me parece que ter estas qualidades tendendo a infinito, por agora, na contemporaneidade, é o que serve como direção e como pista a se seguir pela recompensa.

Ligeiramente defendemos causas, e não somos nada além deles, "Os ídolos", que ora dependemos de um grande orador, ora de um habilidoso político, ora de um conto mágico fantástico, e ora serve a alma de um artista ou intelectual.

No cotidiano, onde vasta parte da sociedade vagueia sobre esta célebre idolatria, o que resta, além destes, é o encontro fervoroso do fenômeno conhecido, onde as pessoas se associal análogamenete como no exemplo das formigas.

Tudo que vejo nos rostos, inclusive no meu que raramente olho no espelho, diz respeito a medo, insegurança e razão. Mas o contato, tão simples e tão superficial, aquele chamado de lei quando se encontra o outro, nada diz na hora em que se precisa de algo mais.

Como tal, para o organismo vivo em movimento que é a humanidade, a criação de duas vias dito racionalismo, seja ele: conjuntos de opostos do tipo (bom e mau, virtuoso e deficiente, esquerda e direita, etc); Em síntese, mas parece uma forma de se defender do fim, do mau, da natureza, ou quem sabe de Deus. No caso das formigas, que se trombam enquanto caminham no labor do dia á dia, arrisco a dizer que a via que seguem, dos motores que tracionam suas necessidades em suas patas, nada produzem de risco nesta etapa.

Na humanidade, certo que quando se encontram para produzir algo, seja num ponto ônibus ou num coletivo propriamente, expõem toda sua vergonha no fato de não terem afinidade de conceitos um com o outro, isso em função de estarem perdidos em contratos invisíveis com seus ídolos. Daí me parece que grandes oportunidades de experiência são perdidas. Empiricamente por determinação, é preciso limitar o todo, o que é por o conceito, um paradigma. Fundar um ideal social amplo como parece, deve estabelecer um partido, mirar um inimigo e instituir toda a nossa vontade e a nossa verdade. "AMÉM".