Saudade em Tons de Cinza


Há quatro anos, no dia 11 de setembro, participando de um desafio literário, precisei escrever sobre o atentado as Torres Gêmeas, mas não podíamos abordar as questões políticas e/ou econômicas que envolveram o fato.
Optei falar sobre aqueles que saíram para trabalhar e nunca mais voltaram. Morreram com o adeus preso nos olhos sem vida.  

Na tarde daquele mesmo dia perdi papai em um acidente; sem tempo para um último abraço tive que encontrar força, onde só havia dor, para velar seu corpo sem vida, olhar seus lábios cerrados, aprisionando o adeus que nunca foi dito.

 
Hoje o tema de nosso EC é a Cor da Saudade. Se papai ainda estivesse entre nós, completaria 82 anos. Só posso dizer que, passado este tempo:
 
Magoa-me esta saudade
Que tenta roubar a ternura,
a alegria e a felicidade.

 
Magoa-me esta saudade
Que invade minhas lembranças
Matando em mim a esperança...

Magoa-me esta saudade,
De você, meu querido pai,
Que tanta falta nos faz!!!!
 
 
O tempo vai passando, mas a saudade continua emoldurada com os tons de outono, folhas jogadas de um momento que se eternizou no vácuo de sua ausência, permanecendo aqui, como lembrança de uma primavera que não se concretizou...
 
Tanto tempo já passou, mas quando penso naquele dia ainda ouço o grito de desespero após a notícia, o silêncio quebrado pelos soluços, a dor que parecia rasgar todo meu ser, as lágrimas que caiam em cascata.
 
A dor, que nunca foi curada, esconde-se em algum lugar em forma de saudade e volta no meio da noite, no fim da tarde, no amanhecer, em datas que comemorávamos juntos....

As lágrimas já não são tão constantes, mas sempre voltam e ocultam o arco-íris que existia em meu olhar toda vez que nos encontrávamos...

O choro agora é solencioso, manso, mas ainda é doloroso. Apesar do tempo ainda não aprendi a ser órfã...

Se antes a saudade era apenas a lembrança das coisas boas vividas, ela hoje tem o margo sabor da perda, o tamanho do vazio deixado pela partida do homem que mais amei e que, provavelmente, mais me amou...

 
Hoje, em mim, a saudade tem tons de cinza.


Este texto faz parte do Exercício Criativo - A Cor da Saudade
Saiba mais, conheça os outros textos:
*Foto tirada no último aniversário dele





Pai,*
Pode ser que daqui a algum tempo
Em outro plano, a gente possa se encontrar,
Mas, isso não ameniza a saudade que ficou em seu lugar...
 
Pai!
Pode ser que daí você sinta
Tudo que vivi e sofri com a sua partida
Mas, não sei se pode me ajudar a sarar a ferida...
 
Pai!
Eu não faço questão de ser tudo

Só não quero ser alvo ou escudo
De enganos e falsas verdades...
 
Pai!
Me perdoa essa insegurança,
Mas, meu pensamento não alcança
O porquê de tudo que aconteceu...
 
Pai!
Eu cresci e não houve outro jeito,

Forjei, na dor, um novo olhar
Para entender o encanto desfeito...

Ah! Ah! Ah!... Pai!
Você foi meu herói meu bandido
Hoje é mais, muito mais que 
uma saudade
Nem você nem ninguém tá sozinho
Você faz parte desse caminho

Que hoje eu sigo em paz
Pai! Paz!...

 
 
 



N. A.: Os trechos em destaque são fragmentos da música Pai, de Fábio Júnior.

*Republicada

Ângela M Rodrigues O P Gurgel
Enviado por Ângela M Rodrigues O P Gurgel em 13/05/2013
Reeditado em 13/05/2013
Código do texto: T4288252
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