O Homem na vida aristotélica : animal racional e ser ético político.

 

O que é filosofia ? “Conjunto de estudos, de sistemas de pensamento e de reflexões intelectuais que visam a compreender a realidade absoluta, as causas elementares, os fundamentos dos valores e das crenças humanas, o sentido da existência.” (dicionário Aulete).

 

Como diz o PP Bento XVI o homem “voa com duas asas”, uma entendida como filosofia e a outra como teologia. São duas “pernas” vitais para o caminhar do ser humano, quando preocupado com o “sentido da vida”. A filosofia como ciência busca compreender Deus e a verdade absoluta. A teologia é a ciência da fé, e busca compreender o homem e suas ligações transcendentais.

 

Antes de entrar no mérito da “questão”, permita-me uma rápida reflexão : Se não há um ser supremo, um primeiro princípio absoluto, uma verdade suprema, um ser divino ou seja lá o título que se queira dar, fica no ar o seguinte :

 

Qual seria o sentido da VIDA ? Por que e para que a ordem social ? Trabalhar para quê ? Qual a razão de ser honesto ? Qual o sentido do amor, da esperança e da caridade ? Fazer o bem para quê ? Promover a justiça, com qual sentido ? Falar a verdade, por quê ? Ser solidário ? bobagem ! Estudar, com qual objetivo ? Filosofar, com qual objetivo ?

 

Uma “filosofia” que não questiona o sentido da vida, que não reflete sobre quem somos, que não pergunta se Deus existe, que não se angustia em saber se há vida além da morte, deixa de ser filosofia, pois não discute os pontos fundamentais da razão humana. “Penso, logo existo”, é uma frase simples, inocente, mas de uma profundidade assustadora, que nos conduz a meditações e diálogos perenes.

 

Se não há vida além da morte, por que somos diferentes dos demais animais ? Por que somos o único animal racional da face da terra ? Se não há Deus, por que somos seres intelectivos, de que adianta isso, se ao final tudo simplesmente desaparece ? Há milênios o leão – rei dos animais – age da mesma forma. O mesmo acontece com o jacaré e toda a fauna e flora. Diferente dos humanos, que agem e interagem promovendo evolução,

 

 

progresso, crescimento social, cultural, intelectual, guerras, invasões, etc. A história do “leão” baseia-se na mesmice, enquanto a do homem baseia-se no desenvolvimento.

 

Fé e Razão são irmãs siamesas e o diálogo entre elas deve ser constante, pois o dia que chegarmos a uma conclusão final, provavelmente será o dia mais triste para a filosofia e para a teologia, pois falaremos sobre o quê, depois ? Essa busca persistente pela verdade e pela Verdade é saudável e enriquecedora.

 

O homem como animal racional e ser ético político :

 

Aristóteles, no livro I, da Ética a Nicômaco, nos conduz a uma maravilhosa viagem pelo interior do ser humano. Milênios se passaram e as perguntas, as dúvidas, as reflexões e a angústia continuam as mesmas !

 

1. O que é animal racional ? É o ser humano, o homem como espécie ;

2. O que é ser ético ? “É aquele que cumpre um conjunto de princípios, normas e regras que devem ser seguidos para que se estabeleça um comportamento moral exemplar.” (dicionário Aulete).

 

Somos animais racionais, totalmente diferentes dos demais animais que campeiam pelo mundo afora e diferentes da flora também. Enquanto as plantas são dotadas de alma vegetativa e os animais de alma sensitiva, nós somos o único ser na face da terra dotados de alma intelectiva. Por que será ? Qual a razão ? Essa distinção vem de onde ou de quem ? Razão, pensamento, raciocínio, consciência, alma, espírito. O ser humano é um ser dotado de corpo, alma e espírito, mas uno ! Não são 3 “coisas”, é um ser homogêneo.

 

Esse animal racional nos dirige para uma outra figura que surge, nasce, dentro desse “ser” : o homem ético, um ser político por excelência, uma vez que, tudo na vida, passa obrigatoriamente pela politica. Viver é uma arte política. Aquele animal pré-histórico de milênios atrás, se transformou, cresceu, evoluiu, desenvolveu. E a característica mais forte foi o desenvolvimento do intelecto. “Penso, logo existo” (Descartes).

 

E surgem, através dos filósofos, entre eles Aristóteles, milhares de reflexões e pensamentos a respeito desse novo “ser” que evolui diuturnamente, pois a razão do homem é dinâmica, os pensamentos não param nem quando ele dorme (os sonhos). E neste Livro I de Aristóteles surgem questões de ordem existencial :

 

Toda ação e todo propósito visa a algum bem. O bem é o objetivo maior a ser atingido pelo homem. Todos os seus esforços seguem nessa direção. O que muda são as atividades dos homens. Assim o propósito do engenheiro é construir a casa, o do médico é promover a saúde e assim por diante. A realização do “bem” leva a uma satisfação que é conhecida como “felicidade”. A felicidade é o resultado de um propósito alcançado. Construída a casa, o

 

 

engenheiro se dá por satisfeito e FELIZ. Restabelecida a saúde do paciente, o médico se da por satisfeito e FELIZ. E assim vai.

 

Dessa forma, qual é o bem supremo objeto de desejo de cada homem ? A felicidade. Mas o que é a felicidade ? “Bom êxito em algo que se fez; SUCESSO” (dicionário Aulete). Mas a felicidade varia de acordo com o “desejo” de cada cidadão. Para uns felicidade significa honrarias, para outros significa algo material, para outros mais algo interior. Algumas pessoas identificam o bem ou a felicidade com algo prazeroso.

 

Pitágoras classificava as pessoas em 3 categorias da época (mundo grego), mas que podemos utilizar hoje, perfeitamente. São elas : os negociantes, os competidores e os espectadores. O mundo é um “grande circo”, por isso temos os negociantes que promovem os acontecimentos; temos os competidores, aqueles que lutam e batalham carregando o “piano nas costas” e, por fim, temos os espectadores, aqueles que são manipulados pelos negociantes e que ficam em atitudes contemplativas nos jogos da vida.

 

O bem é algo que pertence ao possuidor e não podemos tirá-lo com facilidade. E a felicidade pode ser entendida como o bem supremo a ser alcançado, uma vez que ela é o objetivo final de qualquer pessoa. Pergunte por aí : - o que você mais quer na vida ? E a resposta, invariável, será : - quero ser feliz ! A felicidade é um estado de espírito e objeto de desejo de todos.

 

O homem é por natureza um animal social. Vive em comunidade, vive em grupos e, por isso, sente a necessidade de criar regras, leis, normas de conduta, enfim, para viver em “liberdade” é preciso haver responsabilidade, caso contrário a anarquia prevalecerá. Assim, por mais paradoxal que possa parecer, a responsabilidade delimita a ação da liberdade, pois a minha liberdade termina quando começa a liberdade do outro. E viver em sociedade é uma arte, onde todos tem direitos e deveres.

 

A alma é o princípio vital. O ato de todo ser vivo apresenta 4 traços :

 

1º. Traço - A alma é a forma do ser vivo, a sua matéria é o corpo. O homem é um composto de corpo e de alma (psiquê). O corpo sem a alma, não vive. A alma atualiza a potencialidade de viver. A alma é a perfeição, o ATO.

 

2º. Traço – O homem como animal racional, dotado do Logos, e por isso fala e discorre, pensa. Se distingue dos outros seres em virtude da sua racionalidade. Enquanto ser dotado de Logos, o homem transcende a natureza.

 

3º. Traço – Homem como ser ético-político – Aristóteles faz da práxis um domínio autônomo : a racionalidade. Sistematiza a ética e a política. Considera o homem grego como um ser destinado a viver em comunidade política. É destinado a viver em comunidade política para poder desenvolver a sua fala e o seu intelecto. As virtudes que a ética estuda são as questões do “bem” para a vida individual. O bem é uma atividade em conformidade com a excelência.

 

 

4º. Traço – O homem como ser de paixão e de desejo. Na estrutura da alma há um componente. Aristóteles também discute a questão do prazer e da dor. Saber como lidar com eles nas ações e nas emoções. Assim, Aristóteles é um dos primeiros sistematizadores da antropologia.” (Edgar J. Jorge)

 

Mas qual é a função primordial do homem ? É o exercício ativo do intelecto, da sua alma pensante, da sua ação consciente. O homem é o que é porque é dotado de “razão”, diferente de tudo mais que há no mundo. Algo que o torna original, peculiar, inigualável, diferente. Assim, a função do homem é a atividade da alma por via do raciocínio, que o conduz de forma totalmente diferente dos demais seres do planeta. O homem, com sua alma pensante, atinge o cosmo e chega a lua. Os demais animais vivem a “mesmice” por séculos e não se incomodam, pois o objetivo deles é alimentar-se e defender seu território, nada mais.

 

Assim, um animal racional ao longo de séculos e séculos de evolução vai atingindo um estágio de um ser ético político, com um vasto campo de crescimento, pois a dinâmica do desenvolvimento humano não se encerra nunca.

 

 

Leandro Cunha

maio de 2.013

 

Leandro Cunha
Enviado por Leandro Cunha em 08/06/2013
Código do texto: T4331124
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