Ser Avó
 
 
            É ser mãe sem ter gestado, parido, amamentado… é como se aquele filho não nascido de nosso corpo fosse um pedaço de nossa carne. Fragmentos de nossos ossos. Sangue tirado de nossas veias pulsando fora de nosso coração.

               É sentir-se amarrada a outro ser que não nos pertence, mas a quem pertencemos inteiramente. É olhar a vida com outros olhos, sonhando com cotidianos mais felizes, leves e livres dos perigos de viver. É acordar sorrindo ao lembrar aquela mãozinha pequena que lhe pede a benção.

             É sentir-se pequena e indefesa diante daquele outro que se forma fora de você, mas é parte integrante de seu viver. É voltar a ser criança nas brincadeiras por ele inventadas. É ficar sorrindo feito boba ao som de sua voz que repete palavras incompreensíveis, mas tão cheias de significados.  

           É sentir uma saudade imensa quando o neto está longe de nosso olhar e nossas mãos não alcançam seu corpo miúdo e cheiroso.  É sentir o coração sangrando de saudade ao lembrar de seu abraço carinhoso, seu olhar atravessado quando discorda das ordens da “fofó”. É sentir os olhos marejados ao pensar em seu rosto apertado contra o meu num abraço que tem o poder de calar todas as minhas angústias e medos.

         É viver e morrer de saudade a cada amanhecer sem a presença do neto para alegrar seu dia. 
Ângela M Rodrigues O P Gurgel
Enviado por Ângela M Rodrigues O P Gurgel em 01/05/2014
Reeditado em 26/07/2017
Código do texto: T4790331
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