Memória da Congada do Divino de Piracicaba

UM POUCO DE MEMÓRIA DA CONGADA DE PIRACICABA

Grupo de Congada do Divino Espírito Santo de Piracicaba existe informalmente há mais de um século, surgindo a priori, como Folia do Divino que visitava as casas de fiéis, participando ativamente dos rituais religiosos que antecediam os festejos ao Divino, levando a bandeira do Divino e fortalecendo a fé dos devotos com orações, dança e cantorias.

Com o decorrer de sua existência surgem músicas e coreografias temáticas que são gradativamente introduzidas por antigos componentes, culminando no que hoje chamamos Congada de Piracicaba, e seus participantes nutrem e preservam a devoção ao Divino Espírito Santo adotando Nossa Senhora de Aparecida como mãe padroeira.

Há décadas transformou-se no único grupo manifesto de tradição folclórica, popular e religiosa ativo que alia a prática da fé aos diversos ritmos que incorporaram suas apresentações, entre elas: Baixão do Divino, Congada, Caninha-Verde, Samba Lenço, Dança da Fita, Tangarás, Rio de Lágrimas, gerando um universo sincrético acolhedor entre rituais cristãos, o pulsar rítmico africano e a herança cultural devocional portuguesa.

Resistindo às muitas intempéries nesse longo espaço de tempo de existência, atua em vários eventos, religiosos ou não, levando o nome de Piracicaba à diversos segmentos religioso, sócio e artístico culturais, entre eles, festas alusivas ao Divino Espírito Santo, à São Benedito, à Nossa Senhora de Aparecida, pousos, encontros, congressos, festivais, missas, fóruns, feiras, festas. É também intensa fonte de pesquisa do universo acadêmico, sendo tema de publicações, documentários, filmagens e gravações.

A Congada de Piracicaba representa nos festejos folclóricos, a resistência, inovação e manutenção da tradição do município, sendo de valor significativo para a interpretação da cultura local, onde se identificam elementos semiológicos tais como, dança, religião, economia, música, representação, credo, entre tanto outros que integram o contexto social de um coletivo cultural manifesto; gerando uma rede de relações sócio culturais poli dimensionada.

Isso posto, sua presença é tênue e de sistemático referencial teórico nas áreas de antropologia social, folclore, educação física teologia e sociologia, numa miscigenação completa do corpo, mente e espírito, através de resgate de técnicas corporais, orais, rítmicas à luz da interpretação cultural, desenhando o que chamamos de transfiguração.

Cada componente da Congada de Piracicaba é agente responsável pela sua salvaguarda, resistência, sobrevivência e vitoriosa superação, seja como cidadãos, organizadores, “dançadores”, “tocadores”, e ou “cantadores”; que se harmonizam com a comunidade, nos festejos da cidade e de outras localidades; demonstrando também o modo como lidam com seus corpos em sociedade. Com base em um novo olhar, há de se entender que a Congada constitui um significativo elo para a interação de diversos elementos presentes na sociedade. Assim, o corpo que se manifesta – ora em casa, ora na rua - traz impregnada sua cultura: a cultura da Congada, Congada de Piracicaba.

Texto: Roberta Lessa (Folclorista, Pesquisadora, Coordenadora da Congada de Piracicaba