Bobo de fé

Um bobo passa pela rua e assiste desfiles festivos. Mas o que ele vê? Ora, é certo que o que ele vê está em silêncio. De outro modo, ele, que é bobo, não ouve os ruídos, haja vista imperfeição da fala, que camuflada na voz, vem carregada de muito som, porém, com pouca utilidade. Então o bobo observa. Mas já que o bobo não ouve, então o que ele observa?

Pensando no encanto diria que o bobo observa os olhos, mas será que é isso? Vamos investigar. O bobo, quando é bobo, ouve por respeito. Mas ele é bobo, já ouviu muitas curvaturas da linguagem, mas até aí tudo bem, podemos concluir que o bobo não gosta de lorotas, mas então o que ele vê? Se afirmarmos como dissemos no início do texto que o bobo vê em silêncio, então a pista deve ser os olhos, afinal, é nos olhos que a alma parece ser mais forte, com impulso ou encanto, quando diz sem falar.

Mas se são os olhos que o bobo observa, e seguindo essa lógica, inclui-se na investigação do bobo a alma, que carrega o código primário de verdade do ser, então o que é que o bobo quer? calado, a vagar na observação da imensidão do código alheio? Digo que o bobo é bobo, quer só vagar. Mas eu digo também que o bobo é cego, pois vagar implica em não definir, pois do contrário, definir é tudo, mas o bobo não vê o todo alheio, ele só pode observar e contemplar, amando a imagem e sendo escravo do que vê.

Pingado
Enviado por Pingado em 16/02/2015
Reeditado em 16/02/2015
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