O tempo e/como a agulha de costurar

Para começar este texto, gostaria, primeiramente, de estabelecer a metáfora entre o “tempo” e a “agulha” de costurar. Ao observarmos a mecânica de uma de uma máquina de costura, percebemos que a agulha perfura várias vezes o tecido, percorrendo o caminho da medida. Se colocarmos uma lupa sobre a costura, perceberemos que existe um fio contínuo que estabelece a ligação entre duas partes do tecido. Logo, podemos concluir que a agulha apresenta duas funções: a primeira, relaciona-se ao estabelecimento de pequenos furos; e a segunda, relaciona-se à condução da linha, que tem a funcionalidade coesiva.

Em outras palavras, a agulha percorre o molde de um tecido perfurando-o, e, ao mesmo tempo, tapando, com a linha, cada pequeno orifício criado no pano. De modo geral, essa é a função da agulha para todo e qualquer tipo de tecido em uma situação de costura. No que diz respeito à metáfora, pensemos no “tempo” como um elemento que percorre a nossa história de vida. Se nos aprofundarmos na questão, identificaremos que o tempo é mais básico que a nossa própria vida, ou seja, quando nascemos, ele já existia, já estava em constante ato de costura da humanidade. Não sabemos ao certo quando essa atividade se iniciou, mas essa não é uma questão relevante para essa reflexão. O que, de fato, interessa-nos é saber que ao nascermos, já havia uma arquitetura de costura para as nossas vidas.

O tempo perfurou o espaço físico de aproximação entre mim e ti e preencheu cada perfuração com a linha da amizade, estabelecendo, assim, ligações afetivas como carinho, respeito, atenção, paciência e amor. Fomos marcados por um ponto contínuo da amizade, cujo principal protagonista é o tempo. Não podemos deixar de mencionar que em alguns momentos esse ponto contínuo deixa de ser contínuo tornando-se fragmentos. Se pensarmos no tecido, diríamos que a fragmentação é oriunda de uma pequena falha de costura. Porém, essa falha pode ser sanada, se fizermos uso novamente da agulha. Se em um determinado tempo esse mesmo tecido sofrer rompimento na costura, a agulha mais uma vez estará apta para reparar a falha.

De igual modo, o tempo repara qualquer falha na costura da vida, por mais que sejamos orgulhosos. Nossa tentativa de camuflagem da falha é sempre inútil, pois não há como nos esquivarmos das perfurações do tempo. Afinal, ele é mais básico que as nossas vidas, ou já nos esquecemos que nascemos com a arquitetura da vida por ele costurada? Assim como as costureiras são insistentes ao fazer uso da agulha para manter sempre boa a aparência do tecido, nós devemos ser humildes e permitir ao tempo que faça, quantas vezes forem necessários, os reparos de nossa vida.

Robson Rua
Enviado por Robson Rua em 07/04/2016
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