a vida vista do metrô

Dia 28 de Abril, 2007. Sábado emendado no feriado do dia 1º. E no metrô de São Paulo tudo sempre igual. As 10 da manhã, gente entrando e saindo, muitos ainda sonolentos, alguns passendo, outros tantos trabalhando... Imagine, trabalhar em pleno sábado antes do feriado. Pra uns tudo bem, a gente acaba se acostumando.

E se acostuma mesmo, com tudo, inclusive com a vida. Isso é terrível, se acostumar com a vida pra sempre. É como se a gente dormisse e esquecesse de que as coisas estão acontecendo e pra isso mudanças são necessárias. Mudar o cabelo, mudar o guarda-roupa, os discos e livros da estante, mudar as coisas que eu sei, mudar de casa, mudar de opnião, mudar de ares...

Tem gente que diz que mudanças trazem remorsos. Ah, mas tudo passa. As pessoas, as coisas, a vida. A vida passa e muito rápido. Mais do que a gente quisesse. Passa rápido que nem o metrô passando de estação em estação. A cada estação é um sonho que fica pra trás e mais um que entra. Uma tristeza que muda de vagão e uma alegria que senta o nosso lado e muitas vezes nos sorri.

Hoje, sentada perto da janela, vi refletida nela a palavra escrita sobre a porta lateral oposta: Saída. como era um reflexo, eu só li "adìaS". Há dias que venho tentando entender a rapidez com que a vida me leva nos vagões do metrô sobre os trilhos e a mesma rapidez que leva e tras as pessoas pra perto e pra longe de mim.

Vi muita gente. Uma moça com olhar de choro, uma garota de uns 17, 18 anos grávida, várias pessoas caracterizadas como personagens de mangá, uma turista tirando fotografias da cidade, mendigos dormingo aos pés dos santos do lado de fora da Catedral da Sé e uma bandinha de Hard Core tocando muito alto na Praça do Patriarca. Cada pessoa com um próposito, todas ali, no mesmo lugar indo para qualquer outro, perto ou longe dali.

Me vi no reflexo na janela desta vez e notei o quanto eu mudei desde que vim para esse mundo pelo que eu imagino ser a quinquilhonésima vez. Vi no refelexo não somente meu rosto mas meu sorriso e o semblante feliz de quem procura mudar sempre antes que a vida passe rápido. Rápido demais, como o metrô que em 10 minutos viaja duas ou três estações. Agora o ponto de vista é meu, só meu nessa viagem pra dentro de mim, e daqui, eu vejo gente que vai e volta, entra e sai na esperança, de quem sabe um dia, ver de novo tudo aquilo que ficou pra tras na inumeras estações pelas quais a vida passou...

Carol Bohone
Enviado por Carol Bohone em 12/08/2007
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