O doce badalar do tempo

O relógio na parede é um gato cujo rabo é o pêndulo que marca os segundos e faz tic-tac, tic-tac... E não pára mais.

Até parece que outro dia desses a gente nasceu e nossas fraldas foram trocadas por nossos pais, babás, titias e vizinhas que olhavam a gente de vez em quando. "Filhote, mamãe tem que trabalhar..." Sempre escutei isso quando minha mãe ia trabalhar e minha avó ficava comigo e me levava para a escolinha.

E um dia a gente acorda, num sabadão de sol, todo mundo vai à praia. A gente pega os baldinhos, as pás, coloca o biquini ou a sunga e uma roupa por cima. Ai, ai, mas na hora de colocar o tênis... "Mãe num cabe mais, mãe!" O jeito é ir de chinelo mesmo. O tênis de velcro não serve mais e a gente tem que aprender a amarrar cadarços. Aaah, como é difícil!

A doce infância termina quando os problemas mais sérios chegam. Termina também a igualdade entre os sexos. No prézinho todo mundo brinca junto e os trabalhinhos que a primeira professora dava, eram feitos por todos com capricho quer quem fosse o parceiro. Depois vem a quarta série, e aí todo mundo se divide entre o clube da Luluzinha e o do Bolinha.

Sempre tem a menininha mais bonita da classe e o garoto que todas adoram. E ai a gente acha que sabe o que o amor.

Suspiros pra todo lado... Pegar o lápis daquele garoto, daquela menina é motivo de arrepio. Pegar na mão, é namoro na certa!

É assim que a gente percebe o quanto é diferente e gosta disso... Até chegar a adolescência. Mais uma vez tudo começa a dividir, só que agora, por afinidade. As famosas panelinhas: as patricinhas, os jogadores, os músicos, os CDFs, o resto... O resto se sente a escória total. Se você é resto, você não tá na moda, você não ouve música descolada, você, você, você... O problema é que aí, você pode se apaixonar de verdade por aguém que teoricamente nada tem a ver com você. Ele é bonitão e você usa aparelho no dente. Ela é modelo e você usa as roupas que sua mãe compra ou que você ganha dos primos mais velhos. Daí a gente chora, quer mudar, queremos ser quem não somos.

Nessa fase a gente descobre tanta coisa. E não interessa, a gente quer ser legal, popular, aquele que todo mundo adora. E nem sempre é assim.

E como a gente chora... Por um amor não correspondido, por briguinhas, ficamos confusos quando amamos duas pessoas ao mesmo tempo e nos sentimos mal por não sermos aceitos.

Só que depois, a gente acha o lugar certo pra cada coisa, acha o lugar onde seu coração se sente bem, percebe que os pais não são mico e que existem pessoas dispostas a te amar e te aceitar do seu jeito. A gente acaba aprendendo que errar é humano e perdoar é divino e descobre tudo o que a gente gosta de verdade.

Criamos nosso círculo de amigos, a gente se diverte, namora, aprende mais um pouco... E novamente damos o devido valor às coisas pequenas, ao sorriso, aos avós, ao café da manhã, às coisas bonitas, ao gato deitado na escada, banhado de sol.

Carol Bohone
Enviado por Carol Bohone em 19/08/2007
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