Se és mãe gentil dos filhos de teu solo, de quem és mãe afinal, Brasil?

Tenho me perguntado por muito tempo de quem são, afinal, os filhos de meu País. Quem é o povo brasileiro? De quem são os rostos que movem esse quase continente?

Os índios chegaram primeiro (ou será que já estavam aqui?) e viviam tão harmoniosamente com a natureza, que eram chamados de bichos. Faziam sua feitiçaria para curar, dançavam para chover, cantavam para alegrar-se. Comiam da terra e a respeitavam como se nascidos de seu ventre. Cada erva, cada matinho podia aliviar, limpar a alma. A natureza era cheia de espíritos e tudo falava: as estrelas, a água, o sol e a lua. Tantos contos e mistérios jamais escritos em livros, mas sim, na memória.

De longe, longe, vieram homens cobertos por peles, algodão e barbas longas. Tinham cabelos e olhos claros da cor do mar. Os índios estranharam tamanha diferença, e os tais de portugueses foram conhecer a nova terra que de tantas árvores avermelhadas, passou mais tarde a se chamar Brasil, já que o tronco das frondosas árvores era vermelho como brasa.

Os portugueses mostraram aos índios a cruz e a Deus Pai. Os bispos os fizeram rezar e crer na novidade. Os homens claros eram inteligentes e sabiam construir casas, igrejas e embarcações. Mas de egoístas, não queriam ensinar aos outros, não. Para trabalhar, deram mais uma volta no oceano e foram para a África, de onde trouxeram homens, mulheres e crianças em seus navios tumbeiros.

Os africanos tinham pele escura de ébano, no rosto a tristeza de estar longe de suas terras. A tristeza de estar no novo mundo e de ser tão judiado, ser tratado como bicho selvagem, de ter que trabalhar, trabalhar, trabalhar sem receber sequer um agradecimento.

Os negros também não podiam ter sua religião. Foi então que os filhos de Ogum, Oxum, Iemanjá e Oxóssi, viram nos santos católicos seus orixás: em São Cosme e Damião, os Erês; na espada de São Jorge, refletia o rosto de Ogum.

Valei-me, minha Nossa Senhora! Não eram só negros, brancos e índios: eram mulatos, caboclos e cafuzos, todos nascidos no solo do Brasil, mais filhos e filhas dessa pátria sem dono onde nasciam tantos pequenos herdeiros.

Depois de muito tempo, o ouro não bastava e não havia mais escravidão. Surgiram então ofertas e mais ofertas de empregos no solo tão abundante no mundo novo. Italianos, eslavos e alemães se juntaram à causa e vieram morar aqui. A Europa não era mais garantia de nada: nem de terra, nem de futuro, nem de vida. Qualquer lugar podia ser melhor.

Tantos morreram no meio do caminho sem poder realizar o sonho de uma vida melhor. Tantos foram atacados pela peste, pela doença. Mas outros tantos chegaram e se espalharam pelo solo da mãe acolhedora e gentil.

Os povos novos chegaram e foram se ajeitando aqui e ali, fazendo vinho e café. Peleando e labutando sol a sol. Mas o lindo disso tudo, é a esperança em seus corações. Destes povos e dos outros que chegaram mais tarde: chineses, libaneses, japoneses, marroquinos, holandeses, mais africanos, mais portugueses, mais, mais, mais gente.

E sempre, sempre na esperança de uma vida melhor. Acho que agora já sei quem são os filhos da minha pátria: são aqueles que, mesmo na dificuldade, na repressão, não perdem a esperança que ficará sempre viva em seus corações, até o último dia da vida de cada brasileiro.

Parabéns, a nós, brasileiros!

Carol Bohone
Enviado por Carol Bohone em 19/08/2007
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