Luta Interna

A depressão é algo que sempre fez parte da minha vida, salvo até meus seis anos de idade, quando me lembro bem, numa noite escura e fria, minha família e eu nos mudamos para a capital. Ali, eu pude sentir que minha vida encantada acabava pra nunca mais recomeçar.

A depressão, sempre foi aquela amiga companheira, infelizmente a única e sempre fiel. Estava, sempre, em todos os momentos ao meu lado. Foi a ela que contei todos os meus pequenos e modestos sonhos. A ela, contei minhas inseguranças e meus medos. Então, misteriosamente, ela cresceu. Tornou-se maior do que eu, maior que as minhas próprias vontades e desejos. Ela simplesmente se fundiu em mim.

Quando dei por mim, já não sabia mais quem era nem o que queria. Sabia somente o que ela me contava sobre o mundo, e que o melhor segundo ela, era que eu permanecesse ali: parada, com medo do mundo lá fora, contando tudo a ela.

Foi quando, em momentos difícies, ela pegava, através de minhas próprias mãos, meus cabelos compridos e batia com força minha cabeça na parede. Nesses momentos difícies, ela sabia o que fazer: sabia que eu era culpada por tudo e que eu devia me redimir. Assim, ela com suas santas mãos me batia. Me batia com a primeira coisa que encontrasse. Me arrancava os cabelos, no seu acesso de fúria. Me arranhava e lanhava minha pele com minhas próprias unhas. Me debatia. Até desmaiar. Até cansar. Até cair e chorar.

Mas ela não parou por aí. Achava que não era o bastante. Ela é uma amiga difícil de se agradar.

Foi quando, eu não agüentava mais a dor do silêncio e da solidão, ela me disse com sua voz calma e aveludada: “Querida, porque não faz algo diferente, algo que alivie sua magoa?”.

Sorrindo, ela me ensinou que ver meu próprio sangue escorrer pelo corte aberto no meu corpo, era sim, um alívio imenso! Cheguei até ao absurdo da loucura de prová-lo! E quanto mais doía maior era meu alívio. Um alívio macabro e imediato.

Derrepente todo meu alívio virou fixação. Tudo o que eu via, imaginava aquela doce sensação, cortante, angustiante, vermelha, aliviante, como uma anestesia para a minha profunda dor.

Sentindo muita dor e vendo coisas horríveis por onde passei, acabei mandando minha amiga embora.

Mas ela é insistente, demora a entender que não é mais bem vinda.

Hoje, preciso estar 32 horas por dia alerta. É como um recém-nascido que tenho que cuidar. É como uma febre que não cede. É como a morte, sempre há espreita...

Dia e noite, não tenho descanso. É um tique-e-taque de um relógio pertinente. É um mal. Um mal dominador.

Hoje, preciso de toda a coragem que Deus me dá. Isso porque minha caminhada é solitária e vazia. Não se ouve nada além da minha própria voz. Meus amigos sumiram. Meus familiares distantes, não compreendem qual grande é minha dificuldade. E meus familiares que estão debaixo do mesmo teto que o meu, acham que ajudar é me entupir de remédios, o que me deixa completamente dopada, dormindo o dia inteiro; E esperar que eu fale tudo o que eu quero, uma vez por semana, em 45 minutos, a um estranho qualquer sentado atrás de uma mesa.

Será que ouvir minhas opiniões, trocar idéias, fazer alguns programas e rir ao meu lado, são tão difíceis assim?! É acho que é...

Com certeza é muito mais fácil me mandar calar a boca e só abri-lá para tomar remédios, ou para conversar o que eu quiser, naqueles 45 minutos, uma vez por semana. Com certeza é mais fácil me manter presa aos seus pés, do que me ensinar a caminhar.

Mas nada disso vai me impedir de seguir o meu caminho nesse imenso deserto sem vida, ora quente, ora gelado. Porque, corrigindo agora, além de minha voz, escuto a voz de Deus.

Tainá Janaína da Rosa. 10/6/2007