REDAÇÕES

Sempre gostei muito de ler.

Ainda pequena li a coleção completa de Monteiro Lobato.

Lia o que me caía às mãos.

Lia José de Alencar, lia os livros obrigatórios na escola, que eram uma verdadeira tortura para os que não gostavam da leitura.

Como reflexo disto, sempre fui uma aluna com notas ótimas em redação.

Mas uma vez, isto me custou um dia que posso chamar de memorável.

Não me lembro muito bem da idade, mas devia ser algo entre os dez e doze anos. A professora sempre questionava as minhas redações, ela achava que não era eu quem as escrevia, não sei se o que a surpreendia era o vocabulário que eu pegava emprestado em minhas leituras ou se simplesmente ela me achava pouco capaz mesmo. O fato é que um dia ela me pegou de surpresa e novamente me perguntou se era eu mesma quem fazia as redações, deixando aquele clima de desconfiança no ar. Eu inocentemente afirmei e como sempre respondi as perguntas acerca do texto.

Mas ela pensou mais rápido, não sei, mas acho que ela não programou isto não, saiu na hora...

Me mandou sentar em uma cadeira lá atrás da sala e pediu que eu fizesse uma redação ali, na hora.

O fato ficou marcado e é uma pena que eu seja ligada em fatos e que com o mesmo rigor seja desligada em detalhes, pois não guardei esta redação, sequer o título.

E ali permaneci, depois de um tempo brincando com as palavras, descompromissadamente como sempre, (escrever não pode ser uma ato obrigatório, deve ser um prazer), coloquei a folha encima da mesa da professora, que se apressou em olhar minha obra prima.

Foi um dia inesquecível, pois com o mesmo rigor que ele me julgava ela teve que se desculpar perante o que indubitavelmente havia sido obra minha. Deste dia em diante minhas notas em redação continuaram sendo dez, mas desta vez ela tinha certeza que era eu mesma quem as escrevia...