Da série Rascunhos & Descartes do Desespero: Leitor Pessimista

Porque prossigo a engolir esses livros, buscando momentos de torpor? De pura elucidação. Já perdi a conta de quantos já passaram pelas minhas mãos. Dia após dia. Livros que não pedi pra ler. Clássicos obrigatórios. Alguns, pura pretensão. Outros, baboseira. Como formarei opinião? Se não posso confiar em nada, cada frase precisa ser investigada, questionada. Porque leio então? Minha alma costumava se entorpecer por [ou seria "com"] sentimentos, ideias representadas por meio de letras que magicamente transcendiam qualquer coisa palpável, qualquer coisa dita por alguém. Quem, onde e porque destilava [estranha escolha de vocabulário] tamanha sabedoria? Só sei que não mais a reconheço. Me tornei insensível e cético? Ou apenas percebi que tudo que absorvo, só absorvo pela necessidade de me sentir mais esperto, por que não dizer superior? Superioridade é um conceito tão banal e vão. Afinal, como se pode pesar sem uma balança? Equilíbrio sempre me pareceu o correto: leia e pense, leia e pense, forme sua opinião. Portas para sua própria vontade. Seja seu próprio filósofo e filosofia. Autossuficiência é a chave. Conceitos, valores e virtudes podem ser criados, aumentados, retocados ... Só nada [não tenho ideia do porquê desse verbo aqui] com aquilo que se mostra concreto. Duvide daquilo que é exterior a ti e se mostra parte intrínseca de ti [okay!?] . E o mais importante: não enlouqueça. Loucura é um conceito suspeito, mas não é impossível reconhecê-la mesmo sendo portador [estranha escolha de vocabulário novamente] dela.

Estranhamente todo e qualquer livro me parece limitante e limitado. Puro fruto de mentes presas a corpos. Inclusive esse que você lê [sim, pretendia fazer disso um livro]. A produção humana seria imperfeita por natureza? Genialidade seria um feixe de Deus na Terra? Inspiração, o meio pelo qual isso é possível?

Escrito em 2016

Anotações entre [ ] de 2019