Metáfora da casa para explicar o comportamento, seus limites e potenciais

Em tempos de quarentena e isolamento social por causa da pandemia do novo coronavírus, uma metáfora de acordo para explicar o comportamento...

Imagine que você só pode circular dentro de sua casa, que não pode ir para fora, jamais. Sua casa tem:varanda, três quartos, um quintal, dois banheiros, uma sala de estar, uma da TV, um corredor entre elas, uma cozinha, razoável em tamanho, e uma garagem. Tudo isso é onde pode ir. É praticamente uma prisão domiciliar. Mas, ao menos você tem um espaço só seu. Você tem limites bem definidos de até onde pode circular. Mas, tem um espaço relativo pra isso. Outros também têm suas casas ou apartamentos...

Agora pense na casa e no espaço dentro dela como os limites e os potenciais dos seus comportamentos. Os limites da casa são equivalentes aos de sua zona de conforto. O potencial é até onde, circunscrito por esses limites, você pode alcançar, mudar ou fazer dentro deles. Você não pode sair de casa mas pode escolher onde vai ficar pela manhã ou tarde bem como o que vai fazer. Vale ainda ressaltar que a sua casa vai crescer de tamanho, será reformada até um ponto em que isso não mais acontecerá.

Exemplo contextualizado à personalidade: a timidez

Uma pessoa tímida, como eu, tende a preferir por ambientes familiares e com pouca densidade de pessoas para poder circular. Este é um dos limites da minha personalidade. Sei que o meu organismo, especialmente o meu sistema nervoso, tende a reagir mal, se sobrecarregar, em lugares barulhentos, e/ou com pouco espaço, cheios de gente desconhecida, especialmente se for um tipo de gente que percebo hostilidade ou diferença quanto ao meu jeito de ser. Se eu fosse apenas da tribo nerd, talvez não me importaria tanto com a densidade de gente nos ambientes mas mais se a maioria delas fosse de nerds iguais a mim.

Pessoas tímidas também costumam ter fobia de falar para multidões bem como de iniciar conversas triviais com desconhecidos. Estes são alguns de seus limites contextualizados a situações que vivenciamos em nossas vidas. Suas reações não podem ser unicamente atribuídas ao ambiente em que estão mas também e especialmente às suas tendências intrínsecas de personalidade e experiências memorizadas.

"Quando você sai de sua casa", então, é esperado que apresente reações de desconforto, podendo, inclusive, correr o risco de isso se psicossomatizar.

O padrão comportamental de timidez se repete tanto que não tem como pensá-la como mero atributo do meio ou de como que as pessoas reagem para contigo mas também em como que você corresponde. A timidez é uma expressão adaptativa de fuga em relação à confrontações. Tem a sua dose de lógica. Não pode ser definida como uma patologia. Claro, sua expressão muito intensa se configura em um quadro patológico, de desequilíbrio, mas mais como um caso de transtorno do que de doença, em concordância com os meus conceitos para esses termos.

Todos nós apresentamos potenciais e limites. Os nossos potenciais não são apenas os nossos limites, até onde podemos chegar mas, também, o que podemos fazer "dentro deles". Por exemplo, a minha maneira de lidar com a minha timidez ou fobia social nos últimos 6 anos. O fato de ter me aceitado [homo]bissexual no início da minha vida adulta me ajudou muito a parar de, mesmo que fracamente, tentar/socialização com héteros, por ter descoberto uma das "tribos" com as quais eu apresento mais afinidades, ainda que não sejam significativas, se sempre fui um outsider. Eu não poderia ter sido capaz de extrapolar meu limite restrito de sociabilidade, mas consegui ampliá-la em qualidade por esse despertar que tive sobre mim mesmo, deixando de teimar em seguir por um caminho artificial, me redirecionando para

um dos caminhos verdadeiros onde posso viver de maneira mais livre ou natural.

Uma pergunta: de onde veio a minha timidez?

Se eu puxar minhas memórias mais antigas eu só posso concluir, mesmo sem poder provar da maneira mais cientificamente possível, que tem uma base genética, porque eu sou mais avesso ao contato aleatório humano desde a primeira infância, ainda que me lembre de, naquela época, ter sido menos. Mudança de cidade, quando eu tinha uns 8 anos, recepção fria e variavelmente hostil no novo local, e decadência do padrão de vida da minha família, que se estendeu por um longo período, até recentemente, me afetaram de maneira significativa, ajudando a moldar minhas estratégias de existência (e resistência). Minha gagueira e minha bissexualidade também tiveram impacto importante para que decidisse me exilar o máximo que pude/posso do convívio humano, sabendo que se expressa pelo predomínio de atritos, conflitos e hierarquizações irracionais. Eu tenho usado a tática da presa autoconsciente que, ao reconhecer potenciais predadores, passa a estabelecer estratégias de isolamento social e contenção comportamental, quando não é possível o primeiro. Essa foi a maneira mais lógica e, também penso que, racional, de reagir ou sobreviver a um mundo que mudou muito e que se mostra menos convidativo para mim.

Mais um Thiago
Enviado por Mais um Thiago em 23/05/2020
Reeditado em 23/05/2023
Código do texto: T6955828
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