O PROTAGONISMO “EVANGÉLICO” NO DIÁLOGO ECUMÊNICO ENTRE AS IGREJAS CRISTÃS

Por Luis Magno Alencar/ICAB (Seminarista) - Ao logo dos tempos, o ser humano desenvolveu crenças qualificadas em pelo menos quatro grandes grupos, a saber, temos os Panteístas (Deus é tudo), os Politeístas (Deus é plural), os Monoteístas (Deus é um) e os Ateístas (Deus é nada). Neste sentido, o retrato religioso global exige um esforço de aproximação para o diálogo inter-religioso e intereclesial que não serão imediatos, disso não se há dúvidas. Más, como se deu, então, a parcela de contribuição cristã na busca por uma unidade global dos seus crentes?

Olhando numa perspectiva Ocidental, o monoteísmo cristão, embora muito fragmentado, seja talvez um dos poucos exemplos que se conhece em prol de um diálogo entre as suas próprias denominações, assim como com outras religiões mundiais.

Neste sentido, ver-se que as experiências de unidade apresentadas na Bíblia, mostram que no período de formação da Igreja, uma de suas principais características de antes e após os concílios ecumênicos no primeiro milênio era a união, a solidariedade e o amor fraternal, unidade interferida abruptamente, apenas com a ruptura ortodoxa de 1054, e com o surgimento dos protestantes no século XVI.

Apesar de terem sido (pelo menos por algum tempo), bastantes cismáticos entre si e com os católicos, veio dos grupos protestantes, o pioneirismo moderno pelo diálogo. Os anglicanos da Grã-Bretanha (que junto com os luteranos, também adotam como os católicos e ortodoxos um governo episcopal), lograram o início deste movimento, inicialmente através da teologia de Jonh Wesley (1703-1791), que buscava superar o divisionismo protestante nos resultados das ações missionária, isso diante de um contexto histórico da colonização e expansão cristã multicultural, principalmente na Americana do Norte. Nascia a despeito do pan-protestantismo, as sociedades bíblicas e missionárias internacionais (a partir de 1795 em Londres e em 1816 na América do Norte). Um outro percussor do ecumenismo foi o pastor batista inglês William Carey (pai das missões modernas) que sonhou reunir em 1810, os presbiterianos, metodista, batistas e episcopais em prol da mesma causa, por meio de uma conferência internacional. O esforço pela unidade culminou com a fundação do Conselho Mundial de Igrejas, criado na Holanda em 1948.

No âmbito católico e ortodoxo, é curiosa a sucessão de fatos que corroboram as primeiras iniciativas para o diálogo ecumênico. Em 1895, com mais de cem anos de atraso em relação a Wesley e Carey, o então Papa Leão XIII, apresenta uma encíclica, a “Povida Mater”, que instituiu uma novena anual pela reconciliação dos cristãos. No lado ortodoxo, o ato foi além, pois em 1902, o Patriarca de Constantinopla, Joaquim III, foi o primeiro a pronunciar-se por uma colaboração com as igrejas não-ortodoxas. Evoluindo para uma reunião de bispos ortodoxos em 1919 (Sínodo de Constantinopla), a ideia de convocação sinodal para a “Liga das Igrejas” converge para sucessivas conferências pan ortodoxas, e o resultado promissor foram as sinalizações ecumênicas com a Igreja Romana, da qual removeu a ex comunhão de 1054, isso após o histórico encontro do Patriarca Atenágoras com o Papa Paulo VI (1964). Surge no âmbito do Concílio Vaticano II, (1962-1965) o Decreto Unitatis Redintegratio, que previa a restauração da unidade entre os cristãos. Após o encontro do Papa João Paulo II com o Patriarca Dimitrius (1979), nasce a Comissão Conjunta para o Diálogo Teológico.

Na contramão dos exemplos de avanços no diálogo entre as igrejas citadas, no Brasil do século XX, em que se viu a concorrência das denominações cristãs, amparadas por um regime de liberdades, instauradas pela recente república, o diálogo ecumênico foi assumido, primeiramente, por um bispo dissidente do catolicismo romano, Dom Calos Duarte Costa, fundador da ICAB/Igreja Católica Apostólica Brasileira, em 1945.

A romanização da fé dos brasileiros em detrimento do prejuízo da identidade nacional e da livre expressão religiosa, foi o que levou ao sonho de uma igreja católica nacional, consumada, dentre outras diretrizes, pelo diálogo ecumênico de Dom Carlos, manifestado através de seus periódicos (a “Luta” e “Mensageiro de Nossa Senhora Menina”), onde havia o espaço ecumênico para publicações de artigos de espíritas e evangélicos ou quando admitiu a consagração de um pastor para o seu episcopado. Hoje é visto de forma positiva, as presenças de católicos e evangélicos com os líderes de religiões de matriz africana, más quando Dom Carlos ou padres da ICAB assim o faziam, eram vítimas de zombaria e muita discriminação em seus canais de mídia.

Na atualidade, diante do qual o diálogo ecumênico no Brasil foi assumido pelo CONIC/Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (fundado em 1982), é prescindível a manifestação de críticas, visto que, as igrejas evangélicas com maior número de fiéis não estão incluídas, verificando-se assim um movimento minoritário liderado ou por igrejas históricas ou por igrejas episcopais.

Com todos os reveses que possam haver no rumo da unidade, foi a ausência de olhar para além de si dos "bispos universais", que deixou visível para os grupos evangélicos, o horizonte promissor de reaproximação, afinal, se a santidade da Igreja requer a tolerância entre os irmãos é preciso sempre lembrar que "Há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem". (1 Timóteo 2:5).

Gualther de Alencar
Enviado por Gualther de Alencar em 04/09/2020
Reeditado em 04/09/2020
Código do texto: T7054817
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