Problematizando o argumento do "contexto histórico" e um pouco mais sobre justiça

"Você precisa analisar o contexto histórico de que, 'naquela época', aquilo (misoginia, homofobia, racismo...) era absolutamente aceitável"

No entanto, quando alguém usa esse argumento, talvez não perceba que esteja legitimando uma opressão que foi normalizada/imposta por "elites" e ainda negando a existência de grupos e/ou pessoas que se opunham pois sabiam que era injusto.

Portanto, acaso vier à sua mente usar o "contexto histórico" como argumento para justificar (relativizar) práticas culturais/morais (autoritárias e extremistas), pense bem no que está fazendo...

Um pouco mais sobre justiça...

Afinal, o que é injusto??

(Imprescindibilidade, novamente...)

"(Todas) as mulheres deveriam ser proibidas de ter qualquer nível de autonomia em relação aos homens ... porque é apenas por esse jeito que a sociedade pode funcionar adequadamente"

Esse é um dos principais argumentos usados para legitimar a misoginia heteropatriarcal, isto é, o preconceito em forma de desprezo culturalmente estruturalizado contra (todas) as mulheres, endossado até por muitas delas, especialmente pelas mais "conservadoras", claro...

Mas, será mesmo que só assim para que uma sociedade "funcione" de maneira ideal??

Por lógica, quando você faz uma afirmação, você precisa provar que ela é verdadeira, de preferência, com evidências palpáveis ou científicas. Se misóginos argumentam que a domesticação feminina é o ideal para a ''sociedade'', eles ou nós precisamos provar se isso é verdadeiro ou não. O que temos percebido é que não existe uma relação de causalidade entre emancipação das mulheres e "mal funcionamento" da sociedade. Portanto, oprimi-las não é imprescindível para que se alcance o bem estar ou a harmonia social, sem levar em conta que toda opressão imerecida já é, por si mesma, sintoma de disfuncionalidade ou desarmonia, por sua própria/desproporção. Podemos, então, concluir, que a misoginia estrutural é injusta por ser autoritária, extremista e falaciosa. A justiça sempre precisa ser baseada na distinção do que é verdadeiro ou justo e do que é falso ou injusto.