Política: os fins justificam os meios?

A conjuntura política contemporânea é permeada por relações de domínio, decisões justificadas pela busca do bem comum, artifícios por parte dos representantes no intuito de manter-se no poder a qualquer custo, e é limitada pela Lei. No entanto, os conceitos políticos adotados no atual modelo de regime que se intitula democrático, se relacionam com o pensamento que surgiu em um período de fragmentação e ofereceu as bases para um modo estratégico de organização política e posição do Estado.

O pensamento oriundo da interpretação do italiano Nicolau Maquiavel, acerca do fato de que os fins justificam os meios é válido e passível de aplicação na busca pela compreensão do julgamento de uma decisão a partir de seu efeito e intenção, levando-se em consideração os resultados obtidos pelo pressuposto do bem comum. Desse modo, é possível fazer uma analogia a partir do contexto instável em que Maquiavel reformulou o pensamento político e a atual crise configurada no cenário dos poderes, essa última, marcada por um intenso fluxo de informações transmitidas através dos meios de comunicação de massa, que consequentemente conduzem à formação de opiniões.

Qual seria então o limite de uma escolha cujo fim compensasse os meios para se chegar até ele? Certamente há variáveis envolvidas, como o total de indivíduos beneficiados e as consequências práticas, visto que não apenas a atuação daquele que assume a posição de escolha define seu caráter, mas principalmente, o resultado de suas decisões. Na política não é diferente, a resposta prática é em tese, aquela que prevalece. Contudo, apesar de o fim refletir os meios, não é regra que em todas as ocasiões o resultado final será positivo, um exemplo claro sobre a frase atribuída a Maquiavel se manifesta ideia de que a corrupção é um fim que justifica a irregularidade processual e a atuação da justiça. Uma outra situação em que se pode analisar o mesmo fenômeno é o uso da violência para intimidar opositores do governo em um Estado que caminha rumo ao autoritarismo, e que segundo esse, estaria agindo em prol do bem. Sabe-se que grandes atrocidades foram justificadas na história humana em nome do bem, independente do valor a ser pago pela forma como se chegaria à finalidade.

Em tempos de campanhas eleitorais, a busca por alcançar um cargo político ou por manter-se no governo, atinge o auge. Propagandas em massa veiculadas pelos mais diversos meios, frequentemente omitem os verdadeiros projetos dos candidatos, e daqueles que lutam por mais um mandato. A representatividade política, porém, é encarada como uma forma legítima de poder, por ter sido proveniente da escolha direta do povo, o que se relaciona a ideia que Maquiavel propõe sobre se manter no poder a qualquer custo, até mesmo acima do preço da verdade. É fundamental que a política seja construída e efetuada com bases sólidas, de modo que não desvincule a ação cidadã de sua prática. Visar o bem comum, além de um dos valores pelo qual o exercício da política deve zelar, é uma reivindicação das massas pelo direito de uma representatividade transparente. Por último, é imprescindível a adequação da atitude política, especificamente, diante do discurso de que os fins têm os meios como justificativa, o que é muitas vezes interpretado, relativizado e aplicado de forma incorreta. Se os meios são justificados pelos fins, os fins devem ter seu valor equilibrado com os meios.

Flora Fernweh
Enviado por Flora Fernweh em 02/01/2021
Código do texto: T7150223
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