Causas e consequências do movimento antivacina

No início do século XX, a população do Rio de Janeiro presenciou uma revolta catalisada pela imposição da vacinação obrigatória contra a varíola, fator que gerou um descontentamento popular acerca dos limites da liberdade de escolha e motivou mudanças infraestruturais em um cenário de reformas urbanas. De modo análogo, a sociedade brasileira contemporânea ainda encara o ato de vacinar-se, como uma forma de o Estado exercer seu poder sobre os corpos dos indivíduos, o que corrobora com o surgimento de grupos que propagam o descrédito aos estudos científicos a respeito da eficácia da vacinação, e que consequentemente conduzem a saúde pública rumo a um cenário de calamidade.

Apesar da persistência de movimentos dispostos a negligenciar a importância das vacinas, dados apontados pela OMS, indicam que nações com o hábito de vacinar sua população, têm seus índices de expectativa elevados em aproximadamente trinta anos, o que demonstra o impacto positivo estrutural e social da imunização em massa. Contudo, sendo o Brasil um exemplo, em decorrência da oferta serviços gratuitos por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), o país iniciou seus programas de vacinação obrigatória em adultos somente em 1846, uma vez que o déficit na fabricação de vacinas é um fenômeno nítido, assim como a dependência científica e econômica de países desenvolvedores de vacinas, que contam com maiores recursos provenientes do governo e de outras instituições públicas.

Ademais, em relação à história da vacinação no Brasil, a crença desprendida de embasamento científico é proporcionalmente recente, visto que na década de 1990, o médico inglês Andrew Wakefield publicou na revista Lancet, um artigo defendendo a relação direta que a vacina tríplice-viral estabelece com os casos de autismo. Tal ponto de vista foi utilizado como sustentáculo de grupos que já se reconheciam antivacinistas, e que buscavam justamente o posicionamento de uma autoridade que colaborasse com esse ideal equivocado. A partir disso, pode-se afirmar que o comportamento social resultante do medo e da insegurança, criou um cenário propício para o ressurgimento de doenças que já haviam sido erradicadas no passado.

Diante de uma conjuntura na qual é comprovada a eficácia da vacinação, mas que mesmo assim, percebe-se a predominância de estigmas por parte de grupos sociais significativos, é imprescindível que o Ministério da Saúde, com a parceria de instituições especializadas na área da Saúde, como o Instituto Butantan e a Fundação Oswaldo Cruz, disseminem informações verídicas e incentivem a fabricação e o acesso a vacinas por meio de programas coletivos de imunização, como o projeto “Uma vacina, uma vida”, voltado às classes mais baixas e vulneráveis à desinformação, com o intuito de garantir que o ato de vacinar-se seja democrático e efetivo. Dessa forma, os percalços estruturais relacionados às doenças em solo brasileiro serão suprimidos, e não haverá espaço para outra revolta como aquela ocorrida em 1904 no Rio de Janeiro.

Flora Fernweh
Enviado por Flora Fernweh em 07/02/2021
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