Amazônia

Queria poder estar lá. Ser amazonense é chique, afinal o planeta inteiro conhece este estado, mas quem são os legítimos remanescentes dessa terra abençoada? São eles, os ribeirinhos, desconhecidos da civilização e doutores da floresta tão falada. Nunca saíram do lugar onde fixaram residência e convivem com a natureza em estado bruto. A vida dos ribeirinhos tem um ritmo devagar, o que não significa sedentário, suas preocupações evoluem com o ciclo da natureza e isto os tornam dinâmicos e atentos a tudo que acontece, desde a zoada dos peixes a pegada de onças. A beleza do amanhecer em meio a tantos rios e lagos dá um espetáculo a parte e a base de contemplação dessa maravilha vem de uma casa humilde coberta de sapê. Ser amazonense e ribeirinho é depender da natureza para subsistência, sabendo que não faltará o alimento. Com um lago na porta de casa dispensa geladeira para conservar o peixe. O buriti , o cacau, as palmeiras produtos supervalorizados nos mercados estão na porta de casa. Suas ruas são de águas e seu transporte são canoas, que habilidosamente são construídas a partir do conhecimento empírico. O respeito e a dignidade à cultura ribeirinha deve ser preservada. São eles, os ribeirinhos que conhecem a floresta e seus mistérios. Pesquisadores buscam com os ribeirinhos conhecer as plantas que têm algum efeito fármaco e se inteirar da provável medicação que irá surgir com base em suas orientações. A floresta torna pequenos em grandes e grandes em pequenos. Muitos cometem o ledo engano e pensam que a vida ribeirinha é uma situação de muito sacrifício e que todos deveriam morar em casas de alvenaria, pois, isto sim, é civilidade. Ouvindo alguns relatos genuínos, percebo que a mobilização dos ribeirinhos para grandes centros é o mesmo que colocar um pássaro na gaiola ou tirar o peixe da água. Mensurar a felicidade de viver pelo que se tem é completamente démodé. Há uma carga afetiva em cuidar e ser cuidado pela floresta que só quem está lá sabe. Observações, idéias e projetos vem de toda parte, de muitos intelectuais, mestres em suas ciências, mas nunca dos interessados diretos do assunto, os ribeirinhos. Outro dia, um jovem ribeirinho disse que não gostaria de morar na cidade, pois, tinha muita zoada e que a única coisa que gostava na cidade era da água gelada, e só, disse ele. Percebemos o mundo por um outro prisma, nem por isso é o lado errado do vértice. Saber olhar e contribuir naquilo que é necessário e não no que achamos necessário é uma grande virtude. O turismo parece compreender essa verdade valorizando a cultura regional e trazendo cada vez mais turistas. Existe um valor cultural de vivência que a escola não dá e isto é enriquecedor. Quando entendermos que o conhecimento não é uma via de mão única tudo ficará mais fácil e as animosidades de parte a parte cessarão. Amazônia uma zona de conflito internacional, mas os ribeirinhos não sabem disso, alguns deles nem tem rádio ou qualquer outro meio de comunicação com as noticias. Muitos não sabem que teve copa do mundo, olimpíadas e outros grandes eventos mundiais. Mas sabem a época da desova dos peixes, quando a tartaruga chega para botar os ovos, quando está perto da seca ou das estações das águas, conhecem os frutos silvestres que servem de alimento, sabem onde se concentra os bancos de areia que impedem a navegação com suas canoas, tem a flora e a fauna no sangue e são parte da floresta. Ribeirinhos por opção, essa que é a grande verdade. O mundo está de olho nesta floresta e todos nós dependemos dela. Ainda bem que os verdadeiros guardiões desse bioma estão por lá. É importante preservar e para preservar é preciso conhecer. Não podemos esquecer que lá dentro da floresta tem muita cura para tratar e evitar a perda precoce de pessoas amadas. Amazônia é vida e trata de vidas ribeirinhas. Conhecer para aprender deveria ser nosso lema na vida. Há milhões de anos a Amazônia subsiste ao clima, aos índios, aos portugueses, aos franceses e a todas as culturas que se instalaram ao seu redor e ela exuberantemente sobrevive. Existem árvores centenárias e até mais velhas do que estas e ela sobrevive. Florestas pelo mundo afora morrem, só que ela é uma floresta tropical, parte do ano está alagada, é a própria vida se renovando e fluindo dali. Não morre uma floresta de rios e aqüíferos. O ciclo das estações traz renovo para a internacional floresta. Enquanto discutem a quem pertence, os ribeirinhos desfrutam da mãe Amazônia que não sabe o que é discórdia e deseja alimentar todos da fauna, da flora e da espécie humana, e ela tem cuidado muito bem.

Fabiana Helena
Enviado por Fabiana Helena em 15/02/2021
Reeditado em 16/02/2021
Código do texto: T7185273
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