Como reduzir a produção e o descarte ilegal de lixo no Brasil?

Em um dos capítulos de sua obra autobiográfica “Quarto de despejo: Diário de uma favelada”, a escritora Carolina Maria de Jesus enfatiza a precária situação da favela do Canindé, tendo em vista a relação dos moradores com as mazelas de um lixão a céu aberto. De modo análogo, persiste no Brasil contemporâneo, a problemática da produção excessiva de lixo e seu respectivo descarte inadequado. Sendo assim, infere-se que os efeitos de tais atitudes, se expressam na dinâmica social, econômica e ambiental do país, denotando aspectos relacionados à ilicitude da produção de lixo e seu processamento.

Primeiramente, convém ressaltar que a Revolução Industrial, e mais recentemente, o advento da globalização, consolidaram-se como importantes impulsionadores da produção de lixo em larga escala, tendo em vista a demanda de um mundo baseado no consumismo. No Brasil, do mesmo modo, os efeitos do capitalismo reverberaram. Tamanho fenômeno, análogo ao conceito de indústria cultural, proposto por Horkheimer, não se orientou em consonância com a legislação ambiental que prevê a diminuição da produção de resíduos nocivos ao meio ambiente, o que demonstra a negligência como sinônimo de ilegalidade. Ademais, é nítida a influência das condiçõe socioeconômicas no assunto em questão, uma vez que o acesso à informação referente à importância da produção comedida e do descarte correto do lixo, é facilitado em classes mais privilegiadas, além da distribuição urbana da população e seu contato com áreas de dejetos.

Embora a excessiva produção de lixo representa uma problemática referente à sustentabilidade e à sociedade de modo geral, o destino dado aos resíduos consolida-se do mesmo modo, como um desafio a ser superado, visto que conforme dados do Banco Mundial, mais de 2,4 milhões de toneladas de plástico são descartadas de forma irregular no Brasil, muitas vezes em rios e lixões a céu aberto. Tal estatística reflete ainda, a causa dos impactos negativos ao meio ambiente, como a liberação de gases tóxicos na atmosfera, como o metano proveniente do biogás, e a contaminação do lençol freático. Outrossim, a maior exposição aos detritos, contribui com o aumento da incidência de doenças, principalmente em indivíduos que habitam os arredores desses locais.

Portanto, diante de uma situação de exacerbada produção do lixo e do descarte inapropriado do mesmo, é imprescindível que a instância governamental responsável por tais percalços, o Ministério do Meio Ambiente, com o apoio das prefeituras, elabore políticas públicas de incentivo e conscientização às pessoas e às empresas, por meio de benefícios fiscais àqueles que reduzirem a produção de resíduos e se comprometerem com o destino desses, como o programa “Lixo Zero” e a revisão da coleta seletiva integrada, com o alcance de todos os cidadãos. Assim, com o objetivo de amenizar as desvantagens que o lixo proporciona e garantir um maior bem-estar socioambiental nas mais diversas esferas, será possível repensar atitudes e criar perspectivas inovadoras no cenário nacional.

Flora Fernweh
Enviado por Flora Fernweh em 02/05/2021
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