Sobre ausência de evidência e evidência de padrões

Na ausência de evidências, pense logicamente...

Exemplo:

A inteligência humana é fruto mais do meio ou da biologia??

Pois, por uma análise geral, percebemos que:

- Pais mais inteligentes tendem a ter filhos mais inteligentes e o mesmo para os menos

- Pessoas muito inteligentes podem vir de famílias ou ambientes socialmente limítrofes (menos comum)

- Pessoas menos inteligentes podem ser encontradas em todas as classes sociais, inclusive nos lares mais privilegiados (acho até que tem bastante...)

- Estudantes de uma mesma classe escolar tendem a desenvolver níveis e tipos diferentes de inteligência e de personalidade

- Filhos dos mesmos pais, criados em um mesmo lar, também podem apresentar uma maior diversidade de expressão fenotípica e que, talvez, dependa do nível de similaridade genética (fenotípica e genotípica) ou da carga mutacional de pelo menos um dos progenitores

- Filhos adotados tendem a apresentar maior semelhança de comportamento e inteligência com os pais biológicos do que com os adotivos

São padrões com as suas devidas exceções ressaltadas

Mas, segundo muitos daqueles que dizem seguir ou trabalhar com a ciência, especialmente nos campos associados à inteligência, como a psicologia, a filosofia e a genética, não é possível deduzir, por esses padrões, que o comportamento humano apresenta uma forte e, talvez, dominante influência biológica, porque argumentam que faltam evidências concretas para comprovar isso...

Agora uma metáfora para explicar e criticar esse raciocínio

Imagine que você tem um quebra-cabeças para montar. Então, você reúne as peças disponíveis e começa a procurar por seus lugares para encaixá-las corretamente. No entanto, depois de finalizar, você percebe que várias peças estão faltando e que não será possível completar o quebra-cabeças. De qualquer maneira, já dá para perceber do que se trata, porque, com as peças existentes, deu para formar uma imagem familiar ou reconhecível, não necessariamente perfeita porque algumas das peças mais importantes são justamente umas das que não estão presentes.

Agora, vamos pensar que você é um cientista, do tipo cientificista e, portanto, tende a desprezar a capacidade da sua/nossa intuição de juntar os pontos por si mesma. Que o quebra-cabeças é o comportamento humano e as influências que o regem. Mas, por você ser esse tipo de cientista cientificista, as peças ou fatos/padrões disponíveis não são suficientes para serem considerados como evidências. Então, você decide jogar fora essas "peças" ou, ao menos, desprezá-las em prol de uma maior precisão científica.

Pois pense se os nossos ancestrais tinham tempo e paciência para esperar por um delineamento perfeito de toda questão relevante??

Não digo que a intuição seja sempre superior à uma busca mais demorada por evidências concretas, mas também não podemos estar sempre descartando-a. Por isso que, a partir do momento que temos ou encontramos alguns, mas não todos, os padrões de uma verdade, o equivalente às peças de um quebra-cabeças, não podemos pura e simplesmente descartá-los sem pelo menos analisá-los da maneira mais honesta possível.

Pois o fanatismo pela precisão pode fazer com que descarte, de maneira precoce, pontos verdadeiros que tem acumulado por dedução intuitiva e percepção, especialmente se, ao invés do pensamento lógico-racional, for uma "ideologia" (no sentido de conjunto pré-determinado de ideias, ideais e perspectivas) que estiver se sobrepondo à sua percepção.

E o fanatismo leva à distração ... pela precisão

O fanatismo é uma contemplação ou admiração exagerada em que o pensamento crítico é fortemente diluído.

(Enquanto que o preconceito é o uso desequilibrado do pensamento crítico, reduzindo fortemente a contemplação ou admiração ao objeto alvejado).

Por isso que costuma causar distração ou desatenção por detalhes e padrões verdadeiros, como no exemplo, em que os padrões que têm sido percebidos não são levados em conta ou, então, desconsiderados em prol de uma maior precisão.

Vale novamente ressaltar que, a maioria daqueles que desprezam as "peças existentes" ou padrões, o fazem por motivação ideológica. Essa é uma maneira desonesta de atrasar ou complicar a possibilidade de uma compreensão coletiva sobre certo assunto, especialmente se for considerado polêmico.

A distração pela precisão é o que considero como a falácia que praticamente define a ciência por uma perspectiva mais crítica, especialmente quando confrontada com a verdadeira filosofia e/ou também a partir de sua constituição historicamente dissociada da própria filosofia, que é sempre pela maturidade ou sanidade máxima de se buscar pela verdade e nada mais que a verdade (sempre principiando pelas mais importantes que são as verdades existenciais).