Autossuficiência na produção de vacinas

Em sua obra “Sonhos Tropicais”, o escritor Moacyr Scliar recria de modo literário, a trajetória do sanitarista Oswaldo Cruz no processo de implantação da vacinação obrigatória, o qual demandou o apoio internacional para a sua concretização. De modo análogo, a produção de imunizantes no Brasil, tendo em vista o contexto da pandemia de Coronavírus, depende dos vínculos com outros países, o que dificulta sua autonomia. Sendo assim, pode-se inferir que a independência na produção de imunizantes deve ser alcançada de modo a evitar a falta de vacinas à população e a oferecer soluções contra as crises econômica e científica.

Em primeiro plano, convém ressaltar que de acordo com o filósofo contratualista Thomas Hobbes, os indivíduos abdicam de sua liberdade plena, em troca da segurança proporcionada pelo pacto social. Todavia, a escassa produção e os baixos investimentos do Brasil, demonstram que o Estado não cumpriu com sua função social de assegurar o acesso às vacinas, uma vez que uma parcela considerável dos brasileiros é excluída. Em razão disso, é correto afirmar que o Brasil encontra-se em uma posição inferior na dinâmica geopolítica, visto que relega ao segundo plano, as medidas necessárias no quesito social da oferta de saúde pública.

Outrossim, é nítido que muitos países adotaram a venda de vacinas e sua respectiva tributação, como estratégia não apenas com fins lucrativos, mas também como forma de reiterar sua soberania. Dados do Banco Mundial, por exemplo, indicam que a produção dos imunizantes é atualmente o principal esforço dos países desenvolvidos. No Brasil, contudo, evidencia-se a célebre frase de Pierre Lévy: “Toda tecnologia gera algum tipo de exclusão”, já que a produção nacional ainda se classifica como precária, fator que agrava a crise.

Portanto, diante de uma conjuntura de desordem na saúde pública, e de desigualdades geradas pelo descaso científico na produção, é imprescindível que o Ministério da Saúde, Ciência e Tecnologia, invista na produção maciça de vacinas totalmente brasileiras, por meio da destinação dos recursos que seriam originalmente empregados na compra dos imunizantes, para as universidades públicas, com o intuito de fomentar a produção científica brasileira de amplo alcance que até então se encontra defasada. Assim, por meio de incentivos advindos das instâncias de poder, será possível verificar mudanças no âmbito da produção independente em várias esferas.

Flora Fernweh
Enviado por Flora Fernweh em 10/07/2021
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