Analisando o teatro grego( Homero)

Como poderíamos começar a falar sobre a tragédia grega ,mais especificamente sobre Édipo Rei, sem antes mencionar Aristóteles e a sua definição sobre esse gênero.

Para o filósofo Aristóteles a tragédia grega é a imitação de uma ação elevada e completa dotada de extensão, numa linguagem embelezada por formas diferentes em cada uma das suas partes e que serve-se da ação e não da narrativa e que por meio da compaixão e do temor provoca a catarse ,isso é ,provoca a purificação de tais paixões.

Agora sim podemos adentrar na tragédia Édipo Rei e conhecer os seus pormenores.

Analisando de forma contundente a tragédia grega Édipo rei, pode-se perceber a assimilação de uma imagem de processo judicial, o qual possui como componente principal o réu, cujas ações serão julgadas. No caso dessa tragédia, Édipo torna-se o réu, na visão da opinião pública, configurando um herói marcado e deslocado socialmente.

Além disso, o contexto sociocultural em que essa tragédia se apresenta é o da pólis, caracterizada especialmente pelo fomento da democracia e, por conseguinte, da justiça. Na tragédia grega, o coro é uma metonímia para o cidadão popular, comum, expondo por meio de interpelações a perspectiva de tal grupo. Destarte, assim como o voto, o coro é sempre formado por homens, mesmo quando o papel a ser representado tratava-se de um grupo de mulheres. Deve se ressaltar que o coro, juntamente com o herói, constitui elemento essencial a esse tipo de peça, conferindo externalidade ao tema. Nesse gênero de peça, apesar da ação constituir o núcleo dessa, o coro não é um elemento estranho a ela, devendo assim ser considerado como um dos atores que faz parte do todo. Dessa forma, considera-se a ação do coro direcionada para os espectadores.

Ademais, relação entre o coro e o herói é, eventualmente, marcada por certa tensão. Esse exprime a verdade coletiva diante do herói atingido pela hybris, a verdade explicitada pelo grupo em questão é a verdade é a verdade da pólis. Ele louva o espírito da pólis com as suas normas de conduta, as suas medidas e a sua prudência. Contudo, não somente são exaltadas as virtudes exemplares a serem seguidas, mas também são demarcadas questões controversas diante do público por meio de um discurso expresso por cantos líricos e marcadamente solene, permeado de expressões religiosas que valorizam a medida e a prudência. Nesse sentido, considera-se o coro uma representação da condição mais pura e abstrata do espírito da pólis clássica, dada a imparcialidade necessária para tal papel.

Sob tal perspectiva, na tragédia Édipo rei, o coro- formado por pessoas comuns que eram recrutadas e pagas- exprime a dor de uma sociedade. Nela, as ideias dos personagens e o sentimento do coro não convergem. A partir de tal esfera de problematização, conclui-se que esse clássico é paradoxal, visto que todos apiedavam-se de Édipo, considerando a força histórica do fatum grego, mas sua condição ia de encontro à moralidade da pólis. Cumpre ressaltar também a dualidade conferida ao coro, pois além de sua função de expressar a consciência popular, também assume o papel de relatar contextos e ações de outros personagens ao público, facilitando sua compreensão.

A partir dessa ótica, é possível denotar, durante a peça, dois grandes conflitos que notoriamente abalam o coro. Além da falta de estabilidade social pelos boatos e indícios que cerceiam o rei, surgem dúvidas relativas à eficiência das profecias e dos saberes dos deuses. Tal questionamento se dá pela constatação de que, se o assassino de Laio não é seu filho, como era informado ao povo, a profecia não teria sido cumprida e os deuses eram, portanto, falíveis. Apolo, padroeiro das profecias, perde sua força aos olhos populares, ocorrendo a quebra da sacralidade. A religião, dessa forma, torna-se ameaçada .

Além disso, duas grandes inquietações podem, a partir de então, abalar o coro .Além de estar seu rei afetado ou ameaçado pelos indícios que se vão produzindo, deve ocorrer ao coro outra possibilidade igualmente grave, relativa à eficiência do saber profético de Apolo.

As profecias concernentes a Laio, conhecidas do coro são apresentadas por Jocasta, e reafirmadas às vésperas do segundo estásimo, essas, diziam que este rei morreria pelas mãos do próprio filho, mas, para surpresa de quem acredita no poder dos Deuses imortais, eis que o assassino parece ser filho não de Laio, mas de Pólibo e Mérope. Que teria sido feito, neste caso, das previsões de Apolo? Tal como Jocasta, o Coro vê surgirem condições para se descrer dos oráculos, posto que falíveis.

Embora preocupante, a atitude da rainha quanto à mântica pode ser menos grave ao Coro do que o arranjo de fatos que a enseja, e do que a ameaça maior de que se oculte a Zeus o que se passa em seus domínios, temor manifestado no encerramento deste canto coral, nestes versos:

“Eia, ó soberano, se és corretamente afamado,

ó Zeus, senhor de todas as coisas, não escapem

a ti e ao teu imortal império.

Perecem os antigos oráculos de Laio

Já os oráculos são abandonados

e em nenhum lugar Apolo é honrado:

vai-se a religião.”

A realização da profecia (Laio morrer assassinado pelo próprio filho), por outro lado, desautorizaria expressões de ceticismo quanto à mântica, como as de Édipo e especialmente Jocasta, reafirmando o império e a força dos imortais. Não deixa de ser provocante o fato de que a fé do Coro em um mundo moral, ético e político superior, um mundo ordenado pela religião, deva ser posta na dependência da autoridade e verdade justamente da profecia, que tanta polêmica desperta no drama como na vida histórica, e cujos limites e problemas já haviam sido percebidos até mesmo pelo próprio Coro, no primeiro estásimo quando a profecia é desprezada por não ter valor de prova, e onde os saberes são relativos e intercambiáveis.

Portanto, com tudo que foi dito acima podemos afirmar que o que foi vivenciado pelo herói trágico grego acaba por não passar de uma simples consequência dos atos. Com isso, lembremo-nos que esse não pode ficar acima da pólis. Consequentemente, os seus atos criminosos devem e serão punidos. Além disso, também devemos ressaltar que ele não é um sujeito totalmente mal ou um sujeito “bonzinho” é sim uma pessoa normal que em determinado momento da vida cometeu uma hibrys e por isso tem que pagar. Isso ocorre, pois, a pólis não aceita mais que alguém esteja acima dela como os heróis da antiguidade ficavam e não sofriam punição alguma, ao contrário eram muitas vezes exaltados.

Talvez, por causa dessa humanização do herói trágico tal peça causasse tamanha comoção a quem assistisse, pois, todos nós em algum momento da vida estamos sujeitos a cometer erros e por causa desse fato em algum momento da peça nos “colocamos no lugar do herói grego” e nos compadecemos dele.

Contudo, não devemos deixar de mencionar que para Jean Pierre Vernant e Vidal Naquet a relação entre o direito e a tragédia pode ser encontrada no próprio aproveitamento de um vocabulário técnico do direito na linguagem dos trágicos ,na sua afinidade por temas ligados ao derramamento de sangue e sujeito a competência de determinados tribunais ,bem como na própria forma de julgamento que é dada a certas peças.

Antonio C B Filho
Enviado por Antonio C B Filho em 14/08/2021
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